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Tão longe, tão perto

A Barra custou a ser povoada, parecia distante do resto da cidade, até que, nos anos 60, um arquiteto famoso traçou o plano que forjaria seu futuro

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 5 jun 2017, 14h45 - Publicado em 21 nov 2011, 17h04
Nos anos 70, muita gente na praia e extensas áreas sem prédios: em três décadas, o bairro mudou de feição
Nos anos 70, muita gente na praia e extensas áreas sem prédios: em três décadas, o bairro mudou de feição (Redação Veja rio/)
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Em Vaudeville, seu livro de memórias, o empresário Ricardo Amaral relata que ?foi uma dureza? levar para a Barra cantores como Chico Buarque e Marisa Monte. ?Eles só queriam saber de Canecão?, escreveu o homem da noite, que em 1994 abriu no bairro o Metropolitan ? hoje ainda lá, no subsolo do Via Parque, mas com um nome diferente, Citibank Hall, e nas mãos de outros donos. Muitos artistas simplesmente não topavam fazer shows fora do eixo Zona Norte-Centro-Zona Sul. E, na época, Amaral teve de ouvir dezenas de vezes aquele bordão histórico: a Barra é longe.

Não é. Obviamente, parece distante se o único parâmetro de medida for a Zona Sul, espécie de marco zero que vigorava na cidade até a década de 70, quando começou a se delinear um processo de expansão urbana em direção à Zona Oeste, mais especificamente no caminho da Barra da Tijuca. Hoje, na verdade, bairros como Botafogo e Flamengo é que se tornaram longínquos na visão de boa parte das 300?000 pessoas que moram na Barra. Por quê? Porque eles estão cada vez mais autossuficientes. Não precisam atravessar túneis ou florestas para ser felizes.

Até os anos 80, antes portanto da construção da Linha Amarela, as curvas, subidas e descidas do Alto da Boa Vista formavam o trajeto preferencial dos moradores que saíam da Zona Norte em busca da extensa faixa de areia ? 13 quilômetros ? da Praia da Barra. Ao chegar ao bairro, depois de atravessar o pequeno trecho do Itanhangá, os motoristas que vinham do Alto deparavam, à sua direita, com dunas de areia branquinha às margens da via, no exato local onde, tempos depois, seria erguido o Downtown. Era uma visão paradisíaca, resistente ao tempo. Agora só se encontram dunas nos limites da Barra com o Recreio dos Bandeirantes, e em extensões bem menores.

No início do século XX, chegar à Barra era uma aventura digna de exploradores. Quem primeiro morou por ali custou a ter água encanada, luz, gás e rede de esgotos. Na década de 50, bastaria uma folha de papel para enumerar todas as ruas já abertas na região. Enquanto isso, os donos das terras começavam a se multiplicar. Com eles, vieram lendas, heróis e vilões. Três figuras míticas, de apelidos parecidos, encabeçam essa lista: Tjong Hiong Oei, ?o chinês da Barra?, Pasquale Mauro, ?o italiano da Barra?, e Mohamad Samad, ?o libanês da Barra?. Visionários, e também um tanto espertos, foram comprando terras a preço de banana. Era uma época em que ainda pouca gente apostava no povoamento da região, bem antes de virar lei o Plano Lucio Costa, que em 1969 ajudaria a moldar as feições urbanas da futura ?Miami brasileira?, com vias expressas e poucas esquinas. E sem alma, como diriam os piores detratores.

?A comparação com a mais famosa cidade da Flórida faz sentido, principalmente pelas avenidas largas, os prédios imponentes e as praias. Mas a Barra tem uma característica que não conheço em nenhuma outra cidade do mundo: um manguezal dentro da urbe, e ele deve ser preservado?, diz Carlos Carvalho, dono da Carvalho Hosken, empreiteira e imobiliária pioneira na região, que ergueu as primeiras torres na Avenida Lucio Costa (ex-Sernambetiba). Hoje com 87 anos, o empresário volta a citar a cultura americana quando analisa a expansão do bairro na direção de Curicica, Recreio e Jacarepaguá. ?O que está acontecendo na Abelardo Bueno é a nossa marcha para o oeste?, define.

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Além de se expandir, a Barra já quis se libertar. Em 1988, ganhou força um movimento de emancipação, com o objetivo de se criar um novo município, separado do Rio. Chegou a ser realizado, em julho daquele ano, um plebiscito ? que não teve quórum suficiente para ser validado. Há quem diga que a razão do fracasso foi a pressão imposta por outdoors e plásticos de carro, com dizeres que lembravam que, caso se separassem mesmo da capital, seus moradores não poderiam mais ser chamados de ?cariocas?. Desse modo, pouco mais de 10% dos eleitores compareceram às urnas. E a Barra continuou sendo do Rio de Janeiro.

Caras da Barra

Gente que aconteceu no bairro e que também deve muito a ele

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Pepê

Piloto de asa-delta, ele abriu nos anos 80 uma barraca de sanduíches naturais no calçadão. Hoje, aquele trecho da praia leva o seu nome.

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Eduardo Paes

O prefeito começou a se tornar conhecido quando foi subprefeito da Barra e de Jacarepaguá. A disciplina na ocupação do solo era seu mote.

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Carlos Carvalho

Empresário que ergueu dezenas de condomínios no bairro, como o pioneiro Atlântico Sul.

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Bernard

Jogador de vôlei que foi líder do movimento separatista de 1988. Nas areias da Barra surgiu o saque Jornada nas Estrelas, sua jogada mais famosa.

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