Construir um novo campus para o prestigiado Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Horto, parece uma ótima ideia. Se o projeto tiver recebido um prêmio internacional de sustentabilidade e for pensado para que o espaço seja integrado à natureza, melhor ainda. Tudo soa maravilhosamente bem, mas para os moradores do bairro, a teoria não vem sendo aplicada à prática desde que as obras no número 60 da Rua de Oliveira Castro começaram, em abril.
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Previsto para ficar pronto em três anos, o projeto consumirá 100 milhões em investimentos e inclui a construção de quatro pavilhões em 8,7 mil m² de área edificada. É muita coisa – e pode causar um impacto ambiental incalculável, alegam os vizinhos. Eles criaram uma página de denúncias no Instagram (@desmentindoimpa) e uma petição on-line pedindo o fim das obras. Na última quinta (6), a polícia ambiental visitou o terreno e interrompeu a construção da nova sede do Instituto. O Impa entrou em contato com VEJA RIO para informar que uma perícia técnica realizada pela Polícia Civil, na sexta (9), atestou a regularidade da obra, que voltou a operar normalmente.
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Moradores da área alegam que o projeto agride a biodiversidade daquela área, além de trazer uma enorme ameaça para a segurança dos moradores das ruas do entorno, já que o terreno em questão é uma encosta íngreme e rochosa, em condição de instabilidade. De acordo com o jornal JB Em Folhas, o projeto, apesar de incluir soluções sustentáveis – como teto verde, energia solar e reuso das águas pluviais – não levou em consideração o tamanho e as características da Rua Barão de Oliveira Castro.
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“O que querem fazer aqui não é um campus. É basicamente um alojamento, já que somente os dormitórios ocupam bem mais de 50% da área a ser construída, no meio da floresta”, disse ao jornal a designer Ana Soter, moradora da rua há 43 anos. “Hoje temos menos de 300 moradores, e com esta construção a população pode dobrar. Estão passando a boiada no Horto”, alerta.
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O projeto do novo campus do Impa, assinado pelo escritório Andrade Morettin Arquitetos e Associados, foi premiado numa competição internacional de propostas sustentáveis em arquitetura: o Prêmio Reconhecimento 2017 da Fundação Lafarge Holcim, da Suíça. A premiação, no entanto, não é motivo de orgulho para os moradores do entorno.
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“Alega-se que o projeto de arquitetura em questão ganhou prêmio de sustentabilidade, mas é evidente que a atitude mais sustentável e correta neste contexto é simplesmente preservar a natureza existente e não substituí-la por um empreendimento que teria imenso impacto. Uma obra com tais dimensões implica em ruídos altíssimos, desvio do curso de águas, desmatamento, em suma: alteração radical do habitat da flora e da fauna locais. Além disso, o alojamento de mais de cento e trinta pessoas aumenta o fluxo do trânsito, o consumo de energia, altera a iluminação do ecossistema e gera uma quantidade absurda de lixo”, afirma o texto do abaixo-assinado.
O Impa afirma que o projeto de construção do novo campus recebeu todas as licenças e aprovações necessárias das autoridades competentes, como a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), e está em total conformidade com a legislação ambiental. Afirma ainda que o início da obra foi precedido de quase 30 estudos técnicos. Entre outras medidas de compensação ambiental, haverá o replantio de mudas de espécies nativas equivalente a 16,5 vezes o número de árvores a serem eventualmente suprimidas.
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