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Invasão estrangeira

Carestia generalizada, protestos de rua e até cantadas em excesso. Não é fácil a vida dos correspondentes que chegaram para o Mundial

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 dez 2016, 13h49 - Publicado em 19 fev 2014, 19h12
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    Além de turistas em profusão e das delegações internacionais, a Copa do Mundo deve trazer ao Rio 15?000 jornalistas do exterior. Somos a cidade-sede que receberá o maior número desses profissionais, e não é à toa que o centro de imprensa da Fifa está sendo construído na Barra da Tijuca. A quatro meses da partida de abertura da competição, no dia 12 de junho, uma primeira leva de correspondentes estrangeiros já circula por aqui para tomar o pulso da cidade-símbolo do país e mostrar o clima que envolve os preparativos para o torneio. Mandaram seus representantes para cá alguns dos gigantes da comunicação internacional, como é o caso da emissora inglesa BBC, da rede esportiva americana ESPN, do impresso alemão Bild e dos diários esportivos AS, da Espanha, e Gazzetta dello Sport, da Itália. Nessa fase de adaptação, os profissionais vêm tendo mais estranhamentos que expectativas confirmadas. “Tenho medo de que as obras feitas às pressas causem problemas, mas sei que os brasileiros vão receber muito bem os visitantes”, diz o mexicano Luiz Alberto Díaz, de 33 anos, do conglomerado Televisa, que já trabalhou também no Mundial da Alemanha, em 2006.

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    Apesar de parte deles ter alguma experiência em cobertura de conflagrações urbanas, a escalada de violência nos protestos de rua surpreendeu a turma. O ponto crítico foi a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão quando registrava uma manifestação no centro da cidade contra o aumento das passagens de ônibus. “Sei que a maior parte do povo estará em festa, mas uma tragédia como essa, que vitimou um colega de profissão, trouxe um pouco de medo para todos nós”, lamenta a bela repórter catalã Patrícia Soriano, de 26 anos, do diário AS, que destaca outro ponto negativo da cidade. Numa realidade bem diferente da que vivia em Barcelona, ela vem sofrendo com o assédio desmedido dos cariocas, sempre dispostos a lhe dizer uma gaiatice. “Já conheci a Lapa, fui a escola de samba e boates, mas tenho saído menos”, admite. “Os homens daqui são muito diretos, já chegam segurando, não fico confortável. Prefiro encontrar meus amigos em casa.”

    A despeito de estarem radicados no Rio há pouco tempo, os jornalistas já puderam se dar conta dos principais problemas de uma cidade às vésperas de receber as duas principais competições do planeta. A começar pelo mais preocupante para quem vem de fora: a exponencial carestia dos imóveis. Patrícia, por exemplo, aluga um quarto em Copacabana pelo preço de um apartamento com três cômodos em Barcelona. Sua colega de ofício Mélanie Ferreira, de 25 anos, da rádio parisiense RMC, queixa-se de que, pelo valor desembolsado para morar em um estúdio na Glória, daria perfeitamente para ela ter um teto no bairro mais nobre de Lyon, cidade francesa de onde veio. Faz parte desse clube dos descontentes o mexicano Díaz, que triplicou seus gastos com moradia, apesar de dividir um apartamento no Leme com um cinegrafista da sua emissora. Como compensação, eles destacam as praias, a facilidade em fazer amigos e a paisagem estonteante, fora o viés profissional. “Os olhos do mundo estão voltados para cá”, afirma Mélanie, que é filha de um português e diz ter se apaixonado pelo Brasil ao ler o romance Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos.

    A Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, com escritório na Rua Senador Dantas, no Centro, lista em suas fileiras 78 jornalistas, mas é fato que esse número está defasado, devido ao afluxo recente impulsionado pela Copa. Entre esses desembarcados há pouco no Galeão encontra-se Niclas Wurtz, de 29 anos, repórter esportivo do Bild, jornal de maior circulação na Alemanha. Em pouco tempo, ele já pôde constatar quanto o futebol está entranhado na população local. “Em todos os países em que trabalhei, há muita paixão envolvida, mas o juiz apita o fim do jogo e a vida segue normalmente”, analisa. “Aqui é diferente: o futebol parece a razão de viver de muita gente. É louco”, espanta-se. O Brasil não é mesmo para principiantes, mas quem chegou cedo tem mais tempo para tentar compreendê-lo.

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