A afinidade da dupla, revelada no tenso encontro da segunda-feira 10, vai muito além do que podem sugerir os ternos sóbrios e as gravatas em tons aproximados de vermelho. Durante visita ao prédio da Justiça Federal no Rio de Janeiro, o desembargador André Fontes, presidente do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região, relativa aos estados do Rio e do Espírito Santo), fez questão de manifestar, em “ato simbólico”, sua “solidariedade e preocupação diante dos desafios e ameaças à figura do juiz”. Mais não explicou. O alvo de tanto apreço é o juiz federal Marcelo Bretas, 46 anos, que, encarregado dos desdobramentos da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro, já determinou a prisão de Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, de Sérgio Cabral Filho, ex-governador fluminense, e do milionário Eike Batista, entre outros peixes grandes.
Bretas pediu reforço na segurança há pouco mais de um mês e, no “ato simbólico” do dia 10, o desembargador Fontes anunciou que havia acatado o pleito. Toda ajuda será mesmo bem-vinda. O magistrado decidiu tomar maiores precauções assim que soube que desconhecidos procuraram informações sobre ele em sua residência e na própria sede da Justiça Federal, onde despacha. Menos de 24 horas depois, outra fase carioca da Lava-Jato, batizada de Fatura Exposta, levou para a cadeia Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde de Cabral, sob a acusação de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução da Justiça. O trabalho dos togados, como se vê, está longe de acabar, mas, ao que tudo indica, vai superando a velha máxima de Fernando Sabino (1923-2004). Cronista afiado, o escritor mineiro dizia o seguinte: “Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei. Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica”.