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Fábrica de invenções

Centro de pesquisa em engenharia da PUC-Rio desenvolve inovações tecnológicas que lembram os filmes de ficção científica

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h16 - Publicado em 18 dez 2013, 19h35
Selmy Yassuda
Selmy Yassuda (Redação Veja rio/)
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A primeira imagem que vem à cabeça quando se pensa em um laboratório de alta tecnologia são bancadas organizadas, ocupadas por pesquisadores silenciosos e atarefados, como se fosse uma oficina da Nasa. Popularizado por filmes, séries de TV e outras obras de ficção, esse estereótipo nem sempre se repete no mundo real. Na Gávea, por exemplo, o maior núcleo de pesquisa privado da cidade, o Centro Técnico-Científico (CTC) da PUC-Rio, está mais para caos criativo do que para organização e método. Não que isso seja um demérito, pois ali se faz ciência de primeira. Há de tudo um pouco entre os 115 laboratórios ? de um prédio erguido exclusivamente para abrigar uma máquina onde se manipulam materiais semicondutores a 200 graus negativos a salas de aula transmutadas em oficina para criação de telas flexíveis de iluminação. Tudo em meio a dependências atulhadas com protótipos de robôs, artefatos eletrônicos, peças de aço e equipamentos para uso na medicina de ponta. “O CTC é uma síntese de como a universidade assume sua missão: produzir conhecimentos que beneficiem a sociedade”, explica o padre Josafá Carlos de Siqueira, reitor da PUC-Rio.

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As invenções nascidas aos pés do Dois Irmãos são tão variadas quanto o número de disciplinas da área de engenharia que dividem as instalações de 104?000 metros quadrados no câmpus. O curso de robótica ocupa uma sala que mais lembra um depósito de sucata, como mostra a foto na página ao lado. Misturados à parafernália de circuitos e peças metálicas estão expostos mais de 100 troféus, medalhas e condecorações que os robozinhos criados pelos alunos da graduação já receberam em campeonatos de luta, de corrida e de inteligência artificial, entre outros. Mas são as turmas de mestrado e doutorado que vivem em um mundo digno dos super-heróis. Entre os aparelhos desenvolvidos pelos estudantes está um exoesqueleto para os braços, controlado por um sistema que se vale de um capacete com sensores para captar comandos neurológicos de quem o usa ? lembra as engenhocas do Homem de Ferro e do Professor Xavier, dos X-Men. Pensada inicialmente como uma ferramenta para operários que precisam suportar ou mover grandes cargas, a máquina pode, no futuro, auxiliar portadores de paralisia. “Essa é uma tecnologia que está sendo estudada por grandes empresas, mas conseguimos fazer uma estrutura menor, mais precisa e mais barata”, anima-se o professor Marco Antonio Meggiolaro, responsável pelo laboratório.

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Perto da oficina dos robôs, é possível encontrar outra invenção feita para ajudar pessoas com limitações de movimento. A doutoranda em informática Katia Vega criou, a pedido de um colega tetraplégico, cílios postiços que acionam equipamentos elétricos ou eletrônicos apenas com um piscar de olhos. Banhado em prata e níquel, o artefato é ligado, por meio de uma maquiagem condutora de eletricidade, a um emissor de raios infravermelho, que funciona como controle remoto para acender a luz ou ligar a TV. Parece complicado? Na verdade, é tão simples que parece mágica. “Hoje já é comum o uso de computador na roupa ou como acessório, como os óculos do Google”, explica Katia. “Mas nós estamos um passo à frente: instalamos o computador no próprio corpo humano.” Outro projeto da pesquisadora pôs sensores de movimento em unhas postiças que permitem as mesmas façanhas dos cílios, mas com o tamborilar dos dedos. De tão promissor, o invento já começou a ser negociado com empresas privadas.

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De maneira geral, os pesquisadores acadêmicos brasileiros costumam ter um jeito bem peculiar de produzir ciência. A maioria parte em busca de soluções abstratas e depois procura uma aplicação prática para sua descoberta. Com isso, muitas criações acabam engavetadas nos laboratórios. Na PUC-Rio, segue-se o caminho inverso. Primeiro, escolhe-se o problema a ser resolvido; depois, põe-se a mão na massa. Se der dinheiro para o pesquisador e para a escola, melhor ainda. “Nada contra o modelo tradicional, mas acho que meu papel é resolver os problemas que a indústria enfrenta”, diz Reinaldo Souza, pesquisador na área de eficiência energética. “Depois, a vida é curta e eu quero comprar um BMW”, brinca o especialista, que já desenvolveu sistemas de previsão de tarifas para a Aneel e a Eneva, e de refrigeração barata para o Prezunic e o Rio Design Center. Por muitos anos o CTC funcionou, como a maioria de seus similares no país, financiado pelos recursos das linhas públicas. No início dos anos 90, um súbito corte no dinheiro levou a universidade a mudar de rumo e se voltar para a iniciativa privada. Hoje, dois terços do orçamento ? cerca de 210 milhões de reais ? são originados pelas próprias pesquisas. “Saímos da zona de conforto e, apesar do início muito sofrido, crescemos muito e ficamos mais próximos da sociedade”, diz Luiz da Silva Mello, decano do núcleo.

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Algumas pesquisas ganham mercado muito rapidamente, como os equipamentos criados pelo grupo da professora Djenane Pamplona utilizados na preparação para plásticas. Os dispositivos são usados em casos de enxerto de pele e reduzem o desconforto dos pacientes no processo pré-operatório, quando o organismo é estimulado a produzir o tecido que será aplicado na cirurgia. O papa Ivo Pitanguy não só aprovou o dispositivo como já usa, sem medo, a maquininha em seus pacientes. Recentemente, a turma criou um aplicativo de celular que permite aos médicos estabelecer os parâmetros ideais para o funcionamento dos aparelhinhos, coisa que anteriormente era feita no “olhômetro”. Batizado com o estranho nome de skin calculator (calculador de pele), pode ser baixado da App Store, a loja de aplicativos da Apple, conhecida pelo rigor com que seleciona os programas que põe à venda. Com isso, o software que saiu da usina de invenções da Gávea pode chegar a interessados do mundo inteiro.

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