Delírio faraônico do empresário Eduardo Guinle (1878-1941), o Palácio Laranjeiras foi construído entre 1910 e 1914 e levou seu idealizador à falência. Uma lembrança das formidáveis dimensões originais da propriedade, que hoje pertence ao governo do estado, é o imponente portão de entrada: cercado pelo vaivém dos carros, mas preservado, fica no acesso ao Parque Guinle, aprazível espaço ao ar livre frequentado por gente de todas as idades. A construção de bronze é ladeada por duas esculturas do mesmo material, em forma de leão alado, que repousavam sobre seu respectivo pedestal de pedra há pouco mais de um século. Na madrugada do domingo 22, uma delas foi derrubada e destruída por um cretino — ou uma matilha deles, o que leva à triste constatação de que pode haver, livre pela cidade, mais de um ser humano capaz de tamanha estupidez. Espatifado, o monumento engrossa a deprimente estatística feita pela Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (Seconserva). Só no ano passado, 102 dessas obras públicas foram danificadas. Entre 2012 e 2015, a secretaria gastou 4 milhões de reais no reparo de atos de vandalismo. Ainda não se sabe quanto vai custar o conserto do leão do Parque Guinle. O da estátua de Noel Rosa, orgulho de Vila Isabel, que teve um braço e um pé serrados em dezembro, foi orçado em 95 000 reais e começou há duas semanas. Em janeiro, os óculos do poeta Drummond, atração turística na orla de Copacabana, foram restituídos pela nona vez. No mês seguinte, o maestro Carlos Gomes, de pé diante do Theatro Municipal, na Cinelândia, recebeu sua quarta batuta. Antes, Tom Jobim (Arpoador), Chacrinha (Jardim Botânico) e Renato Russo (Ilha do Governador) passaram por maus bocados. O que tem na cabeça quem comete uma violência dessas? Bronze não é…