Light cria força-tarefa para combater furto de energia no verão
Na estação mais quente do ano, a empresa foi atrás dos famosos "gatos" e flagrou número de irregularidades sete vezes superior ao encontrado em 2016
Desde o começo do ano, a Light recebeu mais de 30 000 reclamações sobre interrupção no fornecimento de energia. Trata-se de uma chateação, sem dúvida, mas impressiona constatar que o motivo de tantos protestos é, na verdade, parte de um problema ainda maior: o popular gato. Gambiarra fora da lei que alivia a conta de luz do infrator, mas pesa no orçamento dos clientes em situação regular, o truque, além de sobrecarregar as linhas de transmissão, provocando apagões, é responsável por um aumento médio de 17% na tarifa e um prejuízo anual de 2 bilhões de reais. No verão, aparelhos de ar condicionado a mil, crescem os casos de furto de energia. Não por acaso, essa é também a alta temporada da caça ao gato. Ao longo da estação encerrada no dia 20, a Light pôs nas ruas uma tropa com 700 integrantes — entre técnicos, eletricistas, advogados e policiais — em até quatro operações semanais. O campo de batalha é grande. No Estado do Rio, a empresa atende 4 milhões de usuários de 31 municípios.
O verão do gato foi animado (veja no quadro abaixo a comparação com o ano anterior). Verificaram-se irregularidades em 70% dos locais visitados pela fiscalização nos meses de janeiro e fevereiro. Durante as 60 400 inspeções realizadas, a polícia lavrou 54 boletins de ocorrência e efetuou cinco prisões em flagrante. No mapa desse tipo de contravenção na cidade, o pódio é ocupado por Baixada Fluminense (40% dos delitos), Zona Norte (30%) e Zona Oeste (30%), mas a Zona Sul também se faz notar. Nesta temporada, os técnicos da Light encontraram até mesmo indícios de fraude em uma unidade da Drogaria Venancio em Copacabana, inaugurada com festa no início do ano e anunciada como “a maior drugstore do Brasil”. Os circuitos do medidor de energia estavam instalados de forma invertida, o que impedia o registro do consumo real. Depois de levados à delegacia o gerente da loja, o encarregado da manutenção elétrica do espaço e um técnico terceirizado, o Ministério Público acabou denunciando o último pela instalação do equipamento adulterado.
Ponto procurado por famílias da vizinhança no Largo do Machado, o restaurante Gambino é reincidente. Na segunda vez em que o local foi pego pela fiscalização, em 15 de fevereiro — a primeira havia sido em 2015 —, agentes chegaram a quebrar a calçada para encontrar provas da irregularidade. Casos como esse ainda surpreendem Rainilton de Andrade Gomes, superintendente de recuperação de energia da Light. “É comum encontrarmos gatos em mansões e estabelecimentos comerciais que poderiam pagar pela energia sem grandes rombos no orçamento”, diz. “Algumas pessoas, mesmo flagradas, ameaçam a equipe e defendem-se dizendo que todo mundo rouba. Depois, provavelmente, vão para as ruas pedir o fim da corrupção”, desabafa Gomes. Para determinar os locais que devem ser verificados, a Light conta com um centro de controle e monitoramento e uma previsão de faturamento de cada transformador instalado. Quando os dados não batem, surge a desconfiança de que pode haver um desvio. Outras pistas vêm de denúncias da população — só em 2016, foram 15 000 ligações.
A quantidade de energia surrupiada por ano nas cidades fluminenses atendidas pela empresa chega a 6 000 GWh. Esse número equivale ao consumo doméstico do Estado do Espírito Santo no mesmo período. Os clientes podem tomar alguns cuidados para não engrossar, involuntariamente, o time dos infratores. A própria empresa oferece inspeção gratuita e anônima, que pode ser solicitada quando se está de mudança para um novo endereço, por exemplo. Variações súbitas na conta de luz, como um aumento inexplicável, ou um valor de cobrança muito baixo para o consumo esperado (que, sabemos todos, só pode ser problema), também podem anunciar a presença do gato. Fique atento, a não ser que você seja sócio da Light.