Tudo estava pronto para que o feito fosse registrado com pompa e circunstância. Às 4 horas, 58 minutos e 24 segundos da manhã de domingo, as câmeras flagraram a primeira cena das brocas do tatuzão irrompendo no lado superior esquerdo de um paredão de concreto iluminado por holofotes. A bandeira do Brasil e a do Estado do Rio de Janeiro ladeavam o imenso buraco que ia se abrindo no subsolo do Alto Leblon, revelando o intrincado mecanismo do equipamento que realizava a perfuração. Naquele ponto, finalmente se encontravam os dois túneis da Linha 4 do metrô, um escavado a partir de Ipanema e o outro da Barra da Tijuca, com mais de três meses de atraso (o encontro deveria ter acontecido no fim de dezembro). Agora, corre-se para que tudo esteja pronto até julho, justamente num momento em que o governo fluminense atravessa severa crise financeira. Considerada a maior obra de infraestrutura urbana em andamento no país, com 10 000 operários que trabalham freneticamente para que tudo acabe a tempo dos Jogos Olímpicos, a construção da Linha 4 tem sido um desafio complexo. O projeto enfrentou imprevistos, como o afundamento de um trecho da Rua Barão da Torre, em Ipanema, em maio de 2014, que levou à paralisação da perfuração por cinco meses. Recentemente, a entrega da linha voltou a ser ameaçada, dessa vez por falta de dinheiro — apenas na semana passada o estado conseguiu autorização da Alerj para captar novos empréstimos, no total de 900 milhões de reais, a fim de concluir as obras. É compreensível, portanto, a euforia provocada pelo fim da escavação em tempos tão fartos de más notícias.