Para quem mora no Rio de Janeiro, tudo é motivo para tomar uma cerveja ou um chope gelado, à mesa de um bar. Vinicius de Moraes (1913-1980), poeta e boêmio inveterado, cunhou a máxima “Nunca vi boa amizade nascer em leiteria”.
Brincadeiras à parte, o fato é que muitos estabelecimentos guardam a história da cidade, como prova o livro Memória Afetiva do Botequim Carioca (José Olympio), de Paulo Thiago de Mello e Zé Octávio Sebadelhe. A obra, em 256 páginas, faz um inventário desse tipo de negócio desde a fundação do Rio, em 1565. Com nomes e formatos diferentes, mas com a mesma função: servir de ponto de encontro para conversar e bebericar.
Na época colonial, os “bares” funcionavam em instalações que eram um misto de estalagem e armazém, onde se vendiam comida e bebida. Nos anos 1790, passaram a ser conhecidos como casa de café e licores, casa de pastos ou taberna. Os primeiros registros como botequim coincidem com a chegada da família real ao Rio, em 1808, quando um decreto os obrigava a fechar às 22 horas.
O lançamento ainda traz curiosidades como o fato de a cerveja ter sido conhecida como “virgem loira”, no início do século XIX, e reúne uma lista de 26 bares emblemáticos da cidade, entre eles o Zicartola, fundado pelo compositor Cartola em 1963 e que funcionou na Rua da Carioca durante dois anos. Famoso pelos encontros musicais, o estabelecimento revelou nomes como João Nogueira (1941-2000), Clementina de Jesus (1901-1987) e Paulinho da Viola. Recheado de fotos, o livro contém imagens antológicas, como a de Vinicius de Moraes e Tom Jobim (1927-1994) no antigo bar Veloso, onde compuseram Garota de Ipanema, que hoje dá nome ao local.