Dois anos depois de participar do descobrimento, na frota de Pedro Álvares Cabral, o navegador português Gaspar de Lemos avistou a Baía de Guanabara pela primeira vez. Encontrou um cenário encantador, de montanhas cobertas por Mata Atlântica, praias de areia branca e mar verde-esmeralda. As belas terras habitadas por índios tamoios inspiraram disputas sangrentas entre franceses e portugueses até a vitória dos nossos colonizadores e a fundação de um povoado na região onde atualmente fica a Urca, em 1º de março de 1565. O resto é história, mas, até hoje, curiosos e estudiosos dedicam-se ao desafio irresistível de imaginar como era esse paraíso perdido: o Rio antes do Rio. Paulo Bastos Cezar, economista, acredita ter chegado bem perto disso no livro Iconografia do Rio de Janeiro na Época da Sua Fundação (Editora Andrea Jakobson, 36 páginas, 45 reais). Concebida como parte das comemorações dos 450 anos da cidade, celebrados em 2015, a publicação só foi lançada no fim do ano passado, mas a espera valeu a pena.
Além de possibilitar o download da versão digital gratuita da obra, o site imagensdafundacaodorio.com.br disponibiliza um aplicativo e um vídeo de animação simples, mas revelador, ambos desenvolvidos a partir da reconstituição em 3D de imagens do Rio desde o início do século XVI. Bastos Cezar já dedicou outros títulos a temas cariocas, como A Floresta da Tijuca e a Cidade do Rio de Janeiro (Nova Fronteira, 1992) e A Praça Mauá na Memória do Rio de Janeiro (Ex Libris, 1989). Também trabalhou por dez anos no Instituto Pereira Passos, órgão municipal que é referência de dados e conhecimento sobre a cidade. Para reviver o passado, recorreu a escritos dos primeiros visitantes, além de estudos de historiadores e cartógrafos — especialmente o detalhado Atlas da Evolução Urbana da Cidade do Rio de Janeiro: Ensaio, 1565-1965, de Eduardo Canabrava. Com muita pesquisa e o apoio do artista gráfico Pedro van Erven, foram revividos tribos às margens do Rio Carioca, o primeiro acampamento levantado pelo fundador Estácio de Sá, a mudança da cidade para o Morro do Castelo e outros sítios históricos. “Fiz uma leitura da época baseado nos relatos. Não tenho a pretensão de achar que há total fidelidade. Quis dar a minha contribuição”, afirma o autor. Boa viagem.