Humberto Franceschi (1930-2014), fotógrafo, pesquisador musical e colecionador de discos dos primórdios da indústria fonográfica no Brasil, era um apaixonado pelas origens do samba carioca. Ao tema, dedicou um trabalho primoroso, Samba de Sambar do Estácio — de 1928 a 1931 (Instituto Moreira Salles, 232 págs., R$ 50,00). Lançado em 2010 e esgotado, o livro está voltando às prateleiras em segunda edição. Franceschi tinha enorme intimidade com o assunto. Além de ter reunido em seu acervo, hoje pertencente ao IMS, quase todos os álbuns de 78 rotações fabricados pela pioneira Casa Edison, conviveu com compositores lendários do Estácio — alguns fundadores da primeira escola de samba, a Deixa Falar —, a exemplo de Ismael Silva, Heitor dos Prazeres e Getúlio Marinho.
No texto, remonta à chegada da Corte Portuguesa para reconstituir a ocupação da área da cidade que compreende a Cidade Nova e o bairro do Estácio. Com riqueza de detalhes e narrativa saborosa, o autor mostra como, nessa região, “filhos da primeira geração saída da escravidão” inventaram o samba genuinamente carioca que, aprimorado em memoráveis batucadas na antiga Praça Onze, deu forma à música de carnaval e, por extensão, à MPB. O livro traz um bônus precioso: um DVD com fotos históricas, um mapa da cidade datado de 1935, 100 músicas em gravações originais restauradas, depoimentos de entrevistados e histórias deliciosas narradas pelo próprio autor. Curiosidade: Humberto Moraes Franceschi era primo do poeta Vinicius de Moraes.