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Luz no fim do túnel para o metrô na Gávea

Após sete anos de enroscos na Justiça, a abandonada estação do bairro da Zona Sul enfim se encaminha para deixar o papel

Por Ernesto Neves
17 fev 2023, 06h00
Obra paralisada: retomada prevista para o primeiro semestre de 2023 -
Obra paralisada: retomada prevista para o primeiro semestre de 2023 (Dirceu Portugal/Fotoarena/Divulgação)
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Prevista para entrar em operação durante a Olimpíada de 2016, a tão aguardada estação de metrô da Gávea é hoje um triste retrato da inépcia e da corrupção que dragou altas somas dos cofres públicos. A obra já havia consumido 934 milhões de reais quando os trabalhos foram interrompidos, em 2015, por indícios de superfaturamento. Inativado, o buraco localizado 55 metros abaixo da Rua Marquês de São Vicente precisou então ser inundado com 36 milhões de litros de água, medida para garantir a estabilidade do terreno. Agora, após esticado enrosco nos tribunais, esse capítulo nada edificante da história da cidade se encaminha para um desfecho — e ele pode ser bom.

Uma força-tarefa montada pelo governador Cláudio Castro, que reúne a Secretaria Estadual de Transportes, a Procuradoria-Geral do Estado, o Tribunal de Contas e o Ministério Público, promete trazer respostas aos questionamentos jurídicos e assim liberar a retomada da obra. “A ideia é voltar à escavação ainda neste semestre, finalizando a plataforma até o início de 2024”, afirma o secretário de Transportes, Washington Reis. O principal entrave reside em uma decisão da 3ª Vara de Fazenda Pública que impede o repasse de verbas do governo estadual para o Consórcio Rio Barra, responsável pela construção da chamada Linha 4. A decisão deu respaldo à ação impetrada pelo MP, que identificou superfaturamento de 394 milhões de reais na ligação entre Ipanema e Barra. “Estamos realizando uma atualização dos custos junto ao Tribunal de Contas, o que deve se encerrar nas próximas semanas”, prevê o secretário.

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Para além dos espinhos jurídicos, a retomada da obra envolve a retirada de toda a água que hoje alaga as galerias. A iniciativa exige parcimônia, para que não se desestabilize o terreno, e leva pelo menos noventa dias. Por fim, técnicos terão de realizar a manutenção do Boring Tunnel Machine, conhecido como tatuzão, maquinário que executa a perfuração. Há seis anos, ele repousa inativo em um túnel localizado a 900 metros da Estação Antero de Quental, no Leblon, apresentando previsíveis sinais de deterioração. Projetada para ter seis estações — só a Gávea não ficou pronta —, a Linha 4 custou ao todo 10 bilhões de reais e ainda serão necessários aportes da ordem de 1 bilhão de reais para sua conclusão. A plataforma teve apenas 42% das intervenções finalizadas, o que inclui a escavação de um túnel com 1,2 quilômetro na direção do Leblon.

Protestos: moradores contestam o desperdício de recursos públicos -
Protestos: moradores contestam o desperdício de recursos públicos (AMAGAVEA/Divulgação)

A retomada da obra é aguardada com ansiedade por quem vive naquelas bandas da Zona Sul. Com 20 000 moradores e 23 escolas, além da PUC, a Gávea sofre com o entupimento crônico de suas artérias, problema agravado pelo fluxo pesado da Autoestrada Lagoa-Barra. Mas há razões emergenciais para querer ver os tratores a toda — afinal, o abandono das escavações traz risco. Em 2017, o governo estadual optou justamente por inundar o buraco para conter deslocamentos no solo, o que poderia reverberar na área da PUC e dos prédios do entorno. A solução, porém, tinha como prazo de validade o período de cinco anos, já encerrado em 2022. Como forma de chamar atenção para o descaso, a Amagávea, associação de moradores do bairro, vem organizando uma série de atos. “Temos uma reunião com o governador no fim do mês e vamos exigir um plano de ação para que o projeto, de fato, deslanche”, diz René Hasenclever, presidente da Amagávea.

Os benefícios da estação se estendem para muito além dos limites da Gávea. A plataforma foi concebida para permitir uma futura expansão do metrô até Botafogo, beneficiando Jardim Botânico e Humaitá. Ela também deve se conectar à Estação Uruguai, na Tijuca, através de um túnel construído por baixo do Maciço da Tijuca. “O Rio passaria a ter um metrô em rede, cobrindo boa parte de seu território, como ocorre nas capitais globais”, afirma Hostilio Neto, especialista em engenharia de transportes da Coppe-UFRJ. O governo estadual promete levar ao Ministério das Cidades o plano para tais expansões e tentar alternativas de financiamento na esfera federal. Um metrô amplo o suficiente para desafogar as engarrafadas ruas da cidade, se vingar, será um alento. Em janeiro, o Rio amargou a quarta posição entre as metrópoles mais congestionadas do planeta, de acordo com o Relatório Global sobre o Transporte Público, divulgado pelo aplicativo Moovit. Depois de tanto tempo e dinheiro desperdiçados, o carioca torce para poder ir e vir longe do amontoado de carros e buzinas.

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A IMPORTÂNCIA
Os benefícios da estação se estendem para muito além das fronteiras da Gávea

> Cerca de 19 000 passageiros embarcam e desembarcam na estação na Zona Sul diariamente

> Terá dois acessos, pela Avenida Padre Leonel Franca, com maior fluxo, e pela Avenida Marquês de São Vicente

> Contará com duas plataformas, Gávea Sul e Gávea Oeste, uma em direção a Ipanema, outra rumo à Barra

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Metrô Rio

> Permitirá futuras expansões para a Tijuca e o Centro, podendo passar ainda pelo Jardim Botânico

> O metrô carioca deixa de ser uma linha reta para se transformar numa rede

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SETE ANOS DE IMPASSE

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Atrasos e denúncias marcam a obra que deveria ter sido inaugurada em 2016

2010 
Início da construção da Linha 4 do metrô

metrô
(./Divulgação)

2013

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Começa a escavação da Estação Gávea. Foram feitos dois buracos a 50 metros de profundidade

2015
Surgem as primeiras denúncias de superfaturamento. O governo do estado interrompe o repasse de verbas e a obra é paralisada

2016 
A Linha 4 do metrô entra em operação para a Olimpíada, mas a entrega da Estação da Gávea, ainda em obras, é adiada para 2018

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2017 
Sem prazo para retomar as obras, o governo alaga os poços com 36 milhões de litros de água para garantir a estabilidade do terreno

2019 
O então governador Wilson Witzel afirma que o Estado desistiu da conclusão e que vai aterrar o canteiro. O custo é estimado em 30 milhões de reais

2021 
Cláudio Castro assume o governo após a cassação de Witzel, e a estatal Rio Trilhos inicia plano para conclusão da obra. Não aparecem interessados

2022 
Vence o prazo, que era de cinco anos, para manter o canteiro alagado

2023 
Cláudio Castro anuncia força-tarefa para destravar o imbróglio judicial e promete a retomada das obras com dinheiro obtido pela venda da Cedae

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