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De perto, ninguém é normal

Da empresária que se banha com dólares ao pop star vidrado no número 12, saiba quais são as principais superstições e compulsões de artistas, atletas e outras personalidades da cidade

Por Ernesto Neves e Letícia Pimenta
Atualizado em 5 jun 2017, 14h19 - Publicado em 24 out 2012, 16h39
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  • Atire o primeiro patuá quem não tem ao menos uma mania para contar. Não é vergonha nenhuma: as excentricidades fazem parte do dia a dia de cada um e, em última instância, dão confiança e ajudam a pessoa a lidar com a ansiedade. Bater três vezes na madeira, entrar em um lugar com o pé direito ou usar uma roupa de determinada cor são crendices inofensivas que funcionam como um amuleto. Dentro desse universo inerente à condição humana, artistas e profissionais de notoriedade tendem a exacerbar tal comportamento das mais diversas maneiras. Seja por meio de hábitos extravagantes e superstições, seja, em casos mais extremos ? e bem menos corriqueiros ?, com sintomas de males mais graves, que merecem tratamento. “Quando alguém é exposto à fama, seu nível de ansiedade cresce consideravelmente. E isso pode se manifestar no aumento dos rituais”, afirma a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes e Manias: TOC ? Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

    Nesta reportagem, VEJA RIO revela as fixações de 27 figuras conhecidas da cidade, que vão de hábitos prosaicos à obsessão por números, passando por rituais ecumênicos. O ator Murilo Benício, por exemplo, tem compulsão para organizar os produtos na geladeira rigorosamente de acordo com o tamanho. Já a can­tora Maria Bethânia coleciona uma série de idiossincrasias nos momentos que antecedem seus shows. Ninguém pode pisar no palco de sapato antes do início da apresentação nem falar com ela nas duas horas anteriores à sua entrada em cena. Meticuloso de carteirinha, Ney Latorraca deixa tudo pronto na véspera, desde a roupa que vai usar até a mesa do café da manhã. Antes de uma viagem internacional, a galerista Silvia Cintra esfrega seus euros e dólares em todo mundo por perto, a pretexto de atrair mais dinheiro. Em uma interpretação mais psicanalítica, as manias cultivadas por celebridades seriam um mecanismo inconsciente para garantir a manutenção da fama. “Perder o trono é o grande temor de todos os que alcançam alguma notoriedade”, afirma o psicanalista César Ibrahim. A esta altura, o leitor deve estar se perguntando sobre Roberto Carlos, o primeiro nome que vem à cabeça quando surge esse assunto. Mas o rei não está nas páginas a seguir. Seus rituais são tantos que ficaria difícil pinçar um só.

    Escrava da balança

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    A atriz Marília Pêra não passa um dia sequer sem se pesar ao menos três vezes em seu banheiro. Se ela verifica que engordou um pouquinho que seja, imediatamente fecha a boca. A estratégia tem sido eficaz. Marília mantém seu peso desde os 17 anos: módicos 48 quilos.

    Batuque para o santo

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    Devoto fervoroso de seu xará, Jorge Ben Jor, carioca radicado em São Paulo, cumpre um metódico ritual nos shows pelo Brasil ou mesmo no exterior. Ele põe uma imagem de São Jorge no palco, próximo dos instrumentos de percussão.

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    Meticuloso ao extremo

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    Conhecido por ser inflexível com horários ? o que aqui não deixa de ser uma virtude ?, Ney Latorraca procura estar sempre adiantado. Em viagens internacionais, faz a mala com dez dias de antecedência (sim, dez), e, nas domésticas, reduz o prazo para a antevéspera do embarque. Não é só. Ele deixa sempre a roupa que vai usar no dia seguinte toda separada, com cada meia dentro de seu respectivo sapato. A mesa do café da manhã também é arrumada na noite anterior. “Se, por alguma razão, não consigo deixar tudo organizado, fico péssimo”, diz o ator.

    Uma crença lucrativa

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    Desde 1999, o artista plástico Nelson Leirner usa uma espécie de amuleto contra mau-olhado. Trata-se de um colar com vários penduricalhos, entre eles uma cruz, uma estrela de davi, uma figa e um espelho, além de berloques dados pelos amigos. A superstição começou após a Bienal de Veneza daquele ano, quando ele foi vítima de um assalto. Leirner troca o patuá todo dia 31 de dezembro. Uma vez substituído, o acessório vira obra de arte, que pode custar até 40?000 reais.

    Cheio de “exquisitices”

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    Obcecado pela letra x, o homem mais rico do país é supersticioso ao extremo. Eike Batista vive cercado de badulaques. Um enfeite indiano com um elefante, que chama a prosperidade, fica pendurado em seu escritório. Na mesa de trabalho há duas estatuetas de guerreiros incas, que afugentam as vibrações negativas. Ele ainda encomenda o mapa astral dos interlocutores para saber com quem vai lidar.

    Como atrair bons fluidos

    Desde que foi voluntário em um orfanato espírita há mais de trinta anos, o arquiteto Chicô Gouvêa só usa camisa branca na segunda e na sexta. “Foi uma recomendação dos funcionários de lá. O branco traz ótimas energias”, acredita ele, que tem no armário mais de 25 camisas dessa cor.

    Todo tipo de elixir

    A apresentadora Glória Maria frequenta lojas de produtos naturais aonde quer que vá. Numa viagem ao Deserto do Atacama, no Chile, ela descobriu o poder emagrecedor da semente de chia e virou consumidora. Toma também um chá de gravetos colhidos no ninho de uma ave chinesa, que aumenta a imunidade.

    Manjar dos deuses

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    A chef Roberta Sudbrack mantém um oratório na cozinha de seu restaurante, no Jardim Botânico. Santos e orixás dispostos no sincrético nicho recebem diariamente alguns agrados da mestre-cuca. Para Iemanjá, cuja imagem ganhou de presente da cantora Adriana Calcanhotto, ela serve uma taça de espumante. São Lourenço, o padroeiro dos cozinheiros, merece pão recém-saído do forno. E a Preta Velha, uma xícara de café forte tirado na hora.

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    Uma dúzia de cismas

    O cantor Latino cultua o 12, tatuado em seu braço. Procura agendar eventos importantes em datas com esse número. Chegou a marcar o casamento com Rayanne Morais para 12/12/12, mas teve de adiá-lo devido a compromissos profissionais que a noiva assumiu.

    Jardim da saudade

    Em memória de entes queridos, o ator Stênio Garcia planta árvores no quintal. Sua mãe e Chico Anysio são alguns dos homenageados, em mais de trinta pés. “Afago, abraço e beijo as plantas e converso com elas”, conta.

    A bebida que não pode faltar

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    Caetano Veloso não resiste ao achocolatado Nescau, numa preferência que já rendeu comentários bem-humorados de sua ex-mulher e empresária, Paula Lavigne. “Se ele tiver o Nescauzinho e o violãozinho dele, está tudo bem”, disse ela, certa vez. Nas turnês internacionais, a assistente do artista tem a incumbência de levar uma ou mais latas do produto na bagagem.

    Um Tufão na cozinha

    O ator Murilo Benício arruma milimetricamente os alimentos na geladeira, conforme o tamanho. Faz o mesmo com produtos de limpeza. Nas festas, diverte-se enfileirando tampinhas de bebida.

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    Só falta usar secador

    Há muito tempo o apresentador Tande já não exibe os cachos louros de quando começou a jogar vôlei. Apesar da devastação em seu cocuruto, ele mantém o hábito de usar xampu diariamente. “Tem gente que ri de mim porque acha que a careca não fica suja”, confessa. “Mas a pele da cabeça é muito sensível e não pode ser limpa com um sabonete qualquer.”

    Paranoias a bordo

    O ginasta Diego Hypólito faz terapia para lidar com suas manias. Uma delas é não pisar nas linhas do tablado de competição. Outra: ir ao banheiro após o avião decolar. “Espero e dou descarga, para não parecer maluco. Isso me acalma.”

    Armário reforçado

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    Dona de um brechó na Barra, Danielle Winits adora roupas. Nos ensaios de moda, não raro decide ficar com um item. “Ela pede que contatem a marca e compra a peça”, diz sua assessora, Piny Montoro.

    Ritual antes de cantar

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    Maria Bethânia coleciona idiossincrasias. Seu camarim é adornado com imagens de Nossa Senhora, Santa Bárbara, Santo Antônio e Iemanjá. Devota do candomblé, não usa preto jamais. Duas horas antes dos shows, fica recolhida em silêncio em seu camarim, onde nunca pode faltar uma garrafa de uísque.

    Corrente com o além

    Cirurgião plástico das estrelas, Carlos Fernando Almeida só opera com medalhas de São Jorge, duas imagens de Nossa Senhora e um crucifixo no cordão. “E ainda rezo duas orações.”

    Museu da Comlurb

    Admiradora de itens de decoração um tanto surpreendentes, a atriz e apresentadora Regina Casé tem uma coleção com mais de 100 vassouras em sua casa de Mangaratiba. De procedências e formatos variados, elas ficam penduradas no teto em exposição.

    O tranca-tudo

    Na infância, o ator Rodrigo Simas trancava as portas de casa. Aos 20 anos, mudou o alvo da compulsão. “Verifico várias vezes se o carro está mesmo fechado”, conta.

    Compulsão por sapatos

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    Na adolescência, a atriz Carla Diaz começou a trocar sua coleção de uma centena de Barbies por outra de sapatos de salto alto. Aos 21 anos, ela já reúne mais de 100 pares. Em seu último impulso consumista, adquiriu dez. “Como sou baixinha, eles são perfeitos”, afirma Carla, de 1,53 metro.

    O uniforme do prefeito

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    Adepto da praticidade para se vestir, Eduardo Paes elegeu um uniforme para trabalhar: camisa social azul-clara, que cai bem com terno ou calça jeans. Feita com um tecido especial que não amarrota mesmo depois de horas de uso, ela é ideal para o expediente atribulado de Paes, que pode começar o dia em um evento de rua e terminar em um jantar com empresários. “Meu armário é todo azul”, costuma dizer.

    Bebendo manteiga

    Para limpar as cordas vocais, a cantora Sandra de Sá ingere uma mistura de café com manteiga antes dos shows. Detalhe: no camarim não pode ter limão, fruta que ela odeia desde pequena, devido a uma brincadeira de mau gosto de uma prima.

    Lavagem de dinheiro

    Proprietária de uma prestigiada galeria de arte na Gávea, a marchande Silvia Cintra toma banho de dinheiro para atrair prosperidade. “Sempre que vou viajar e recebo euros ou dólares, passo as notas em todo mundo por perto, para dar sorte.”

    Com quantas letras?

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    Um estranhíssimo hábito é posto em prática sistematicamente pela cantora Ana Carolina. Durante a conversa, enquanto aparentemente ouve com atenção o interlocutor, ela conta mentalmente as letras de cada palavra dita por ele e calcula em fração de segundo se a soma resulta em número par ou ímpar. Qual a utilidade disso? Ótima pergunta.

    Bálsamo da sorte

    Quando tem qualquer compromisso de trabalho, seja um show, seja uma reunião, a cantora Simone só sai de casa carregando uma garrafinha com sete essências diluídas em álcool, entre elas sândalo, violeta e canela. Ela borrifa o líquido por onde passa: começa pelo hall do apartamento e continua no elevador, no caminho até a garagem, no carro propriamente dito, no camarim e, por fim, no palco.

    Segredo por baixo dos panos

    Ligado em cromoterapia, o ator Emilio Orciollo Netto só trabalha no teatro, no cinema ou na TV usando cueca vermelha, superstição iniciada em 1993, quando lhe disseram que ela traria bons fluidos.

    Prova de superação

    Mordida por um cão na juventude, a atriz Nicette Bruno pegou pavor do animal. Para atuar em Salve Jorge, que estreia na segunda (22), ela precisou superar o trauma. É que sua personagem tem uma cadelinha. “Perdi o medo ao conhecer a Emily”, revela, referindo-se à maltesa que é sua colega de estúdio. “Aprendi até a ter voz de comando sobre ela.”

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