O boletim de ocorrência foi feito na 18ª DP, na Praça da Bandeira, na terça, dia 10. Segundo o relato, na madrugada anterior, meliantes aproveitaram-se da falta de luz e de segurança na propriedade abandonada para fazer a festa. Em nova visita, levaram dois bustos de cobre, dois televisores de 46 polegadas e parte, também de cobre, de uma mangueira de incêndio. Até aí, triste rotina em uma cidade grande, com crimes diários de todos os tamanhos para resolver, exceto pelo detalhe escandaloso: a propriedade abandonada, caindo aos pedaços, é o Maracanã, monumento histórico, cartão-postal do Rio. Sim, o estádio recém-reformado que abrigou as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Esse mesmo, o campo das finais de Copa do Mundo de 2014, entre a tetracampeã Alemanha e a Argentina, e de 1950, entre o Brasil e o Uruguai.
Da derrota traumática para os uruguaios, restou o orgulho de ter levantado um estádio imponente, de fama mundial. Um grande incentivador da obra foi o pioneiro jornalista esportivo Mário Filho (1908-1966), irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues. Não por acaso, o Maracanã viria a ser oficialmente batizado com o seu nome e havia por lá, até a noite de segunda-feira (9), um busto em sua homenagem. O inacreditável impasse entre o governo estadual quebrado, a concessionária privada que assumiu o complexo em 2013, mas desistiu do negócio, e o comitê organizador da Rio 2016 transformou um patrimônio de valor inestimável em terra de ninguém. Um dos grandes craques a passar por aquele gramado, Zico ainda comandou um jogo beneficente em 28 de dezembro, com Neymar e outras estrelas, visto por mais de 50 000 pessoas. Depois da virada do ano, entraram em campo os ladrões pés de chinelo. Aproveitaram o abandono para promover rapina e depredação, talvez inspirados no exemplo que vem de cima: como se sabe, o salto do orçamento da última reforma no estádio, de 700 milhões para 1,2 bilhão de reais, levantou suspeitas de superfaturamento e propina investigadas pela Lava-Jato.