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Moda sustentável: marcas cariocas aderem ao upcycling

O procedimento, que une sustentabilidade a oportunidade, resgata valor a itens que seriam jogados no lixo

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 14 fev 2020, 19h47 - Publicado em 5 fev 2020, 14h49
Larissa e Luiz, sócios da Oficina Muda: upcycling no trabalho e na vida conjugal (Leo Lemos/Veja Rio)
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Aclamado por crítica e público pela atuação em Coringa, Joaquin Phoenix, ator que sempre teve fama de excêntrico, vem cruzando vários tapetes vermelhos vestindo exatamente o mesmo smoking desenhado por Stella McCartney. Desta vez, por uma boa causa: quer alertar para os desperdícios em nome da moda. De fato, o setor é perdulário pela própria natureza. No Brasil, em 2019, a indústria da moda produziu 170 000 toneladas de resíduos e mais de 80% foram direto para o lixo. Tomando o caminho inverso, várias marcas estão aderindo ao upcycling, a transformação manual de um vestido, blusa ou calça em outro item de igual ou maior valor, com ou sem mudança da função original. Traduzindo: é a consagrada reforma, agora em escala industrial.

Ao contrário da reciclagem, no upcycling a matéria-­prima não precisa “morrer” e não é submetida a processo de intervenção química. “Um vestido que na loja original custava 500 reais e seria jogado no lixo por um pequeno defeito passa por um rápido conserto e consigo vendê-lo por 200 reais”, explica Luiz Eduardo Lyra, sócio da Oficina Muda, que conta com uma loja-conceito em Laranjeiras e unidades em Copacabana e Tijuca. Ao lado da ex-mulher e sócia Larissa Greven, ele tratou de bater à porta de grifes como Maria Filó, Dress To, Richards, Cantão, Redley e Vix para comprar roupas destinadas ao descarte. “O upcycling soluciona um problema que as grandes marcas ainda não têm como resolver”, acrescenta. Em 2019, 45 000 peças passaram pelo ateliê da dupla.

Considerado o grande vilão da sustentabilidade na moda — no processo de produção de cada peça são gastos, em média, 11 000 litros de água —, o jeans é perfeito para o upcycling devido à resistência do tecido. Pensando nisso, a carioca Mirella Rodrigues lançou a Think Blue, movida a garimpos e doações, que transforma calças em saias, shorts, jaquetas e vestidos. Farm, Reserva, Ahlma e Zerezes criaram iniciativas na mesma direção (veja na galeria). O termo upcycling surgiu no fim da década de 90, cunhado pelo pesquisador belga Gunter Pauli, chamado de “Steve Jobs da sustentabilidade”, e entrou para o vocabulário sustentável ao figurar no livro Cradle to Cradle: Criar e Reciclar Ilimitadamente, de 2002, escrito pelo arquiteto americano William McDonough e pelo químico alemão Michael Braungart. A dupla defende a ideia de que um olhar bem treinado para reaproveitar as sobras reduz a necessidade de tanta matéria-prima e é um primeiro passo para qualquer atividade sustentável.

Até a alta-costura, conhecida por desperdiçar como se não houvesse amanhã, entrou na passarela do reaproveitamento. Grifes como a holandesa Viktor&Rolf e a francesa Hermès adotaram o upcycling, dando vida nova a tecidos e materiais que sobram de vestidos, echarpes e bolsas. Em 2018, a esportiva The North Face, de casacos e acessórios para montanhismo, lançou uma linha feita 100% com materiais reutilizados. No ano passado, foi a vez de o gigante sueco H&M aderir à tendência com uma coleção-­cápsula disponibilizada nas lojas da Weekday, etiqueta descolada do grupo. “Ressignificar o valor de um objeto é uma forma de amenizar uma cadeia produtiva feroz. Mas é urgente que as grandes marcas comecem a pensar no design circular, em que cada peça é projetada para um futuro reaproveitamento”, aponta a designer e pesquisadora carioca Fernanda Nicolini, da grife de acessórios Odyssee, também adepta do upcycling. Trata-se de um pequeno passo para a moda, mas um grande salto para a humanidade.

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