Admirador da obra de Oscar Wilde (1854-1900), Marco Nanini queria muito encenar algo relacionado ao autor irlandês. Sua ideia, porém, não era montar uma de suas peças. Também não estava nos seus planos interpretar o próprio dramaturgo em um texto biográfico. Uma terceira via tomou forma em Beije Minha Lápide. Encenado entre agosto e outubro no Centro Cultural Correios, o espetáculo trazia Nanini no papel de Bala, escritor com verdadeira adoração pelo trabalho de Wilde, preso por violar a sepultura de seu herói. Resultado: o desempenho exuberante de Nanini, aplaudido pelo público em sessões invariavelmente lotadas, não passou despercebido. Escoltado por jovens atores, ele entregou um personagem minuciosamente trabalhado entre o sarcasmo orgulhoso e um desencantamento melancólico. “É um texto brilhante, com uma excelente direção por trás e um elenco talentoso e disciplinado. Foi um trabalho dos mais agradáveis que já fiz”, diz Nanini, generoso ao dividir os méritos com os colegas.
A atuação dele para abrilhantar o ano teatral carioca, porém, se estendeu além do palco onde encenou a peça sobre Wilde. Em parceria com o produtor Fernando Libonati, Nanini assumiu a gestão artística do Teatro Dulcina, na Cinelândia, que recebeu uma série de laureados espetáculos — caso de Conselho de Classe, grande vencedor do Prêmio Cesgranrio, entregue no início do ano, Esta Criança, destaque do Prêmio Shell de 2013, além do próprio Beije Minha Lápide. Festivais de teatro, peças infantis, leituras dramatizadas e oficinas foram realizados, repetindo a bem-sucedida experiência do Galpão Gamboa, espaço na Zona Portuária que desde 2007 também é administrado por Nanini. Somem-se a isso o Reduto, endereço de programação eclética em Botafogo, e a Casa de Hóspedes, imóvel que recebe artistas de passagem no Rio. O que se vê é um apetite voraz pelo trabalho, invejável para quem, aos 66 anos, goza do status de um dos maiores atores de sua geração. A paixão de Nanini pelas artes cênicas foi despertada ainda no Recife, onde nasceu e brincava de artista no piano-bar do hotel gerenciado pelo pai. Ele morou em Manaus e em Belo Horizonte antes de chegar ao Rio, onde estreou com uma peça infantil em 1965. “Eu tinha 17 anos, e me lembro até hoje da emoção. Devo muito do que aprendi na vida ao teatro.”