Nova York é uma cidade com características únicas, de pujança invejável. Nem mesmo a derrocada que prostrou o sistema imobiliário dos Estados Unidos em 2008 foi capaz de abalar o mercado de compra e venda de propriedades na metrópole. Com o setor imune a crises e em valorização crescente, hoje não se consegue um bom quarto e sala em Manhattan por menos de sete dígitos. Acredite: existem trechos da ilha onde o metro quadrado chega a estratosféricos 70?000 dólares, o que, em tese, faz um cubículo de 20 metros quadrados custar algo em torno de 3 milhões de reais. É essa atmosfera ímpar que o carioca Marcos Cohen, 48 anos, conhece como poucos e sabe aproveitar como ninguém. No mês passado, ele foi eleito o melhor corretor da Big Apple entre os 4?000 agentes da Imobiliária Douglas Elliman, a maior da cidade. Além de americanos, sua clientela inclui muitos estrangeiros, sobretudo russos, chineses e brasileiros, que investem cada vez mais por lá. Há vinte anos no ramo, Cohen já atendeu personalidades como o cineasta americano Woody Allen e a atriz italiana Isabella Rossellini. Entre os conterrâneos, figuram no seu portfólio o novelista Gilberto Braga e o casal Flora e Gilberto Gil, que através dele se tornaram felizes proprietários. Atualmente, o ator Murilo Rosa e a mulher, a modelo Fernanda Tavares, estão à procura de um apê nova-iorquino. “Esta é a cidade dos sonhos. Todo mundo quer um pedacinho da maçã”, diz o corretor, por telefone, diretamente de seu escritório na capital do mundo.
Como acontece com muitos imigrantes, que embarcam apenas com a cara, a coragem e os sonhos, Cohen chegou a Nova York em busca de novas oportunidades. Descrente, na época, do Brasil, em pleno período de congelamento de preços e salários do Plano Cruzado, largou a faculdade de hotelaria e foi morar na casa de uns primos no bairro do Brooklyn. Até então, o jovem nascido e criado na Tijuca só havia trabalhado na loja de tecidos da família, no Andaraí, e como representante de uma grife de relógios. Desembarcou no aeroporto JFK em 1987, e a tal oportunidade apareceu na tradicional loja de eletrônicos J & S, na Lexington Avenue. Em pouco tempo, destacou-se como vendedor. Simpático e com facilidade para se comunicar em outros idiomas ? fala impecavelmente inglês e espanhol e faz-se entender bem em francês, italiano, russo e chinês ?, conquistava os turistas ao abordá-los com palavras familiares. “Para vender, a gente aprende qualquer língua”, conta, bem-humorado.
Da meteórica carreira no balcão de eletrônicos decidiu apostar em produtos com potencial de lucro bem maior: imóveis. E saiu-se bem da mesma forma, graças a uma combinação de esforço para aprender, sensibilidade para negociar e talento para convencer. Tornou-se um exímio conhecedor da arquitetura e das nuances do sistema de moradia local, que guarda diversas peculiaridades, muitas delas estranhas aos brasileiros (veja o quadro). Por exemplo: três de cada quatro imóveis na ilha funcionam como cooperativas, um regime no qual o interessado em comprar uma unidade deve ter antes a aprovação dos moradores do prédio, onde muitas vezes estrangeiros são vetados. Outro alerta: ao contrário do que os altíssimos preços podem sugerir, os apartamentos costumam ser acanhados, com um ou no máximo dois quartos. Mas, como não é todo mundo que pode adquirir um ? mesmo minúsculo ?, Cohen busca sempre proporcionar um atendimento personalizado aos clientes. Para cativar seus compatriotas, ele dá dicas sobre passeios e se dispõe até a ajudar a encontrar uma babá. “Ele conhece muito bem a cidade e achou exatamente o que queríamos”, atesta Gilberto Braga, dono de um imóvel próximo ao Central Park. “Além de ser carismático e extremamente profissional, o fato de ter nascido no Rio lhe dá uma vantagem por causa do aumento do interesse de brasileiros por Nova York”, observa Dottie Herman, CEO da Douglas Elliman.
A invasão verde e amarela nos Estados Unidos realmente salta aos olhos. Segundo dados da US Travel Association, que reúne as operadoras de turismo locais, 1,7 milhão de brasileiros visitaram o país em 2012, quase 20% a mais do que no ano anterior. “Nunca vi o Brasil tão reverenciado”, afirma o corretor, que era frequentemente confundido com argentino em suas temporadas iniciais. Apesar de Nova York não ser nenhuma Miami, onde os brasileiros já são os principais compradores estrangeiros de imóveis, seu mercado vem ganhando o empuxo de nossos conterrâneos, que descobriram as vantagens de ter um pouso fixo na “city that never sleeps” e assim ajudam a encher o bolso do corretor. Em seus negócios, Cohen não faz distinção de ponto ou metragem. Comercializa desde um pequeno estúdio de 400?000 dólares até a cobertura de 125 milhões do luxuoso Hotel Pierre, o imóvel mais caro à venda na cidade. Seu desempenho é espantoso. Vende por ano entre 40 e 100 milhões de dólares, e fica com 1% de comissão. Uma remuneração que lhe permite certos luxos. Cohen mora em apartamento próprio no valorizado Upper East Side. Vaidoso, só usa ternos das marcas Armani ou J. Crew. Quando vem ao Rio ? a última vez foi há quatro anos ?, hospeda-se no Hotel Fasano. “Trabalho muito, mas sei aproveitar a vida. Às vezes tiro uma tarde para passear no MoMA”, diz. Afinal, curtir Nova York é um ótimo negócio.