1 – Qual a motivação para fazer Herivelto como Conheci, peça que estreia no dia 28, no Theatro Net Rio, e que se baseia na troca de cartas entre o compositor Herivelto Martins e sua amante, Lurdes Turelly?
Comecei a ter contato com a obra do Herivelto em 1987, quando fiz o musical Estrela Dalva, sobre sua primeira mulher, a cantora Dalva de Oliveira. Fiquei amiga dele e da Lurdes, que então já era sua esposa, e comecei a frequentar a casa deles. A trama ganhou força por causa dessa convivência e virou um monólogo musical. Aborda um universo rico, cafona, melodramático e exagerado, que me toca bastante.
2 – Depois de mais de cinquenta espetáculos, ainda tem uma sensação diferente antes da estreia?
Minha última peça foi Gloriosa, em 2009. Depois, fiz cinema e televisão. Tenho a impressão de que é a primeira vez que fico tanto tempo sem subir no palco.
3 – A senhora é conhecida pelo perfeccionismo no trabalho. Já foi mal interpretada por isso?
Sou filha de artistas e fui criada numa época em que se trabalhava muito no teatro. Os ensaios eram em dois turnos de quatro horas, e ninguém morria por isso. Mas os tempos mudaram. Sinto que se ensaia pouco aqui no Rio. Creio que a maioria agora prefere o improviso e a adrenalina. Eles acham que Deus é brasileiro e tudo vai dar certo. Eu acredito mais na repetição.
4 – É verdade que a senhora tem o mesmo peso desde os 17 anos?
Sim, peso 47 quilos, o que é bom para minha altura (1,60 metro). Acho boa a ideia de comer só o necessário. E pratico exercícios. Às vezes, saio com meu marido (o economista Bruno Faria, 48 anos) e andamos até 15 quilômetros, sem sofrimento, por prazer mesmo.
5 – E por vaidade, não?
Comer menos é uma atitude mais gentil com os outros. Afinal, somos muitos no mundo. Quanto menos espaço a gente ocupar, melhor. O público se divide. Uns elogiam: “Olha como está magrinha”; outros me cobram: “Nossa, como você está magra!”.
6 – A senhora atua, dirige, produz, canta, toca piano e dança. Em qual função se destaca mais?
Tento encarar todas as atividades como um exercício eterno. Para mim, a vida no palco é um trabalho de atleta, e eu me considero sempre em processo de aprendizado. Se a pessoa sabe tudo, fica uma chatice.
7 – O que leva a senhora a fazer televisão?
É uma segurança financeira para o artista, uma tremenda vitrine. Outro bom motivo é poder conhecer colegas de diferentes vertentes e gerações. Antes, fazia de maneira mais esporádica, mas ultimamente tenho atuado mais em TV.
8 – Que tipo de atração gosta de ver ou ouvir?
Ouço a Rádio MEC direto. Adoro música clássica. Quando viajo para o exterior, aproveito para ver ópera. Hoje as óperas exibem mais efeitos especiais do que a Broadway. É uma loucura o que os cantores líricos fazem.
9 – Falta muita coisa para os musicais daqui chegarem ao nível das produções da Broadway?
Já dá para comparar. Claudio Botelho e Charles Möeller sabem tudo sobre o gênero. Sem falar no Miguel Falabella.
10 – Em janeiro a senhora completa 70 anos. Planeja uma grande celebração?
No meu aniversário, dia 22 de janeiro, estarei no palco, que é onde nasci, com a peça Hello Dolly. Quero estar nos 70, 80 e 90 como a Bibi Ferreira: em cena, com humildade e obediência.