Belas fotos de uma cidade com veículos de tração animal, pouca gente pelas ruas e homens, claro, portando chapéu ilustram as páginas de Cartas de João do Rio a João de Barros e Carlos Malheiros Dias, livro recém-lançado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte). O trabalho se concentra nas duas primeiras décadas do século XX, período em que o jornalista carioca escreveu com frequência a seus dois mais próximos colegas portugueses. O assunto era quase sempre o mesmo: o antilusitanismo que tomava conta da capital, anos após a proclamação da República. Organizada por Cristiane d?Avila, a obra reúne 71 correspondências, que dizem muito sobre a rotina da época. Há o relato, por exemplo, de como a cidade sofreu com o estado de sítio implantado após a Revolta da Chibata, em 1910. E, com certa amargura, João do Rio conta aos amigos sobre as ameaças de atentado sofridas por jornais que eram considerados simpáticos ao povo de Portugal. Nascido em 1881, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (eis o seu nome completo) se destacou como repórter na Gazeta de Notícias, onde nasceu o pseudônimo João do Rio. Vaidoso, excêntrico, atraiu inveja e homofobia. Mas era muito popular ? a seu enterro foram quase 100?000 pessoas.