De um lado, um homem e uma mulher negros. Do outro, um homem e uma mulher brancos. No meio, a seguinte frase: “Linha 4 – conectando o Rio de ponta a ponta”. A imagem descrita consta em uma peça publicitária instalada na estação Antero de Quental do metrô e está no centro de uma polêmica. Após acusações de racismo na internet, a Metrô Rio decidiu tirar o anúncio do local.
“Deixa eu ver se adivinhei: o casal de negros representa a Zona Norte, e o de brancos, a Zona Sul. Lamentável”, afirmou a internauta Thalita Santos em declaração reproduzida por O Globo. “Não consigo ver como racismo”, afirma no mesmo texto Leandro Ferreira. “Pode não ser intencional, o que prova que o racismo está escondido no interior das cabeças, em especial os publicitários da campanha do metrô”, contemporizou o advogado Humberto Adami, presidente nacional da Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Brasil da OAB.
Inaugurada para os Jogos Olímpicos, a Linha 4 conecta a Pavuna à Barra. Com cerca de 100 mil habitantes (aproximadamente 30 mil deles negros), a Pavuna tem mais de 20% dos moradores com renda de até R$ 235, 20 bebês mortos a cada mil nascidos vivos e cerca de 40 hectares de área com vegetação. Já a Barra abriga mais de 135 mil pessoas (13 mil deles negros), tem 5% da sua população com renda de até R$ 235), 6 bebês nascidos mortos a cada mil vivos e 320 hectares de vegetação. Os dados são da prefeitura, com base no Censo 2010.
Por mais que a remoção do anúncio resolva momentaneamete o problema simbólico das desigualdades dentro da cidade, esses indicadores mostram que as diferenças ainda continuarão existindo por muito tempo no cotidiano dos cariocas se nada de novo for feito.