Em seus documentos oficiais, a Biblioteca Nacional, que funciona desde 1910 num imponente prédio do Centro, costuma atribuir-se dois traços indeléveis: ser “uma instituição permanente do povo brasileiro” e estar “fixada na vida do Rio de Janeiro”. Tem de fato um dos mais ricos acervos sobre o Rio e sempre foi ligada a nossas evoluções urbanas. Já estava na hora de organizar uma exposição em homenagem aos 450 anos da fundação da cidade, e ela ocorre agora, com curadoria de Marco Lucchesi. Intitulada Uma História do Futuro, a mostra teve início na quinta (6), reunindo 240 imagens, entre desenhos, mapas e fotografias. No catálogo do evento, o presidente do órgão, Renato Lessa, divaga sobre o tempo: “Em nossa obsessão pelo futuro, somos cronocidas: não é difícil encontrar na história da cidade evidências compatíveis com tal inclinação. Construímos, destruímos, apagamos, acrescentamos”.
Exemplos como a recente demolição do Elevado da Perimetral, apenas cinco décadas depois de ser inaugurado, estão aí para corroborar a tese de Lessa. Uma das fotos que mais impressionam, na exposição e no catálogo, e que guarda relação com esse construir e destruir permanente, é a que mostra o Rio iluminado, em 1922, para a festa dos 100 anos da Independência — com edifícios que tempos depois viriam abaixo, parecíamos uma cidade tipicamente europeia. Entre outras curiosidades, há um documento sobre um “enxugo geral” no município. Era uma tentativa, no início do século XIX, de combater enchentes. Também chama atenção o rótulo do sabonete Carioca, produto dos anos 30 do século passado para “hygiene e belleza da cutis”, como aparecia na embalagem.