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Solteiras por opção

Bonitas, jovens, bem-sucedidas e exigentes, elas vão passar o Dia dos Namorados sozinhas

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 13h59 - Publicado em 12 jun 2013, 16h13
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  • Pelo menos quatro vezes por semana, a desenhista industrial Natália de Oliveira, 26 anos, marca presença em uma academia de ginástica no Leblon, onde se esmera em lapidar as curvas com muita musculação e exercício aeróbico. Bonita e bem-sucedida, ela divide um apartamento com a irmã um ano mais velha no bairro da Zona Sul e trabalha no setor de marketing de uma empresa de tecnologia da informação. Em uma concessão à vaidade, acaba de passar por um implante de próteses de silicone nos seios. Com tal perfil, seria natural imaginar que, solteira e desimpedida, ela fosse cortejada por um séquito de admiradores interessados na vaga de titular de seu coração. E, de fato, cada vez que vai a um bar ou a uma boate, o que não faltam são pretendentes. O problema é que Natália não vê em nenhum deles “o” companheiro, aquele sujeito dedicado, amoroso, romântico e seguro de si, para quem simplesmente assistir a um filme nas noites de sábado ao lado da amada já é um programão. Neste ano, Natália vai passar o Dia dos Namorados em casa ? sem crise, pesar ou frustração. “Os homens hoje são imaturos e rejeitam qualquer compromisso, porque isso significaria abrir mão do que a vida tem de bom”, analisa. “Eles acham que para namorar é preciso deixar de ir ao Posto 12, à noitada. E, sinceramente, só de pensar em ter de convencer alguém do contrário já dá preguiça. Prefiro ficar sozinha.”

    Do que elas reclamam…. e o que eles respondem

    Os 5 namorados dos sonhos

    A designer que mora no Leblon não é um caso isolado. Nas duas últimas semanas, VEJA RIO ouviu trinta cariocas jovens, refinadas, elegantes e inteligentes que enfrentam dificuldades para encontrar o parceiro ideal. Parte do problema advém de uma circunstância demográfica. A realidade fria e contundente dos números dos últimos recenseamentos aponta um sensível desequilíbrio entre a quantidade de homens e mulheres na população. Assim como acontece em outras partes do Brasil, no Rio elas são maioria e perfazem 53% do total, enquanto eles ficam em 47% ? ou seja, de cara há um déficit de quase 400?000 homens, levando-se em conta apenas a capital fluminense. Da mesma forma, os índices de mortalidade entre jovens na faixa etária dos 15 aos 29 anos é bem maior na ala masculina do que na feminina ? uma consequência do abuso na velocidade ao volante, do comportamento mais atirado e da violência urbana de maneira geral, fatores que vitimam mais rapazes que moças. Um terceiro componente se junta ao conjunto: a opção sexual. O Rio é a cidade do país que concentra proporcionalmente a maior soma de lares com casais homossexuais. Oficialmente, existem aqui aproximadamente 5?000 homens que escolheram dividir o teto e a vida amorosa com um companheiro do mesmo sexo. Esse contingente, claro, é bem superior. “A situação está bem complicada e os homens, é óbvio, tiram proveito da oferta maior que a procura. Basta olhar para a quantidade de campanhas de festas e casas noturnas voltadas para o público feminino, predominante nesses lugares”, diz Larissa Lopes, especialista em marketing promocional, sem namorado há três anos.

    Foto: Fernando Lemos
    Foto: Fernando Lemos ()
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    O fator numérico, apesar de importante, está longe de explicar isoladamente tamanha disponibilidade de tantas mulheres interessantes. O fenômeno é decorrência de drásticas transformações históricas e sociais que alteraram os padrões sociais e de relacionamento. Desde a popularização da pílula anticoncepcional, há quase cinquenta anos, as mulheres consolidaram sua presença no mercado de trabalho, viram a renda crescer e conquistaram o direito de fazer o que bem entendessem de sua vida sexual. A própria ideia do namoro como etapa que antecede o casamento foi subvertida em novos formatos de relacionamento capazes de abrigar o sexo sem compromisso ou a exclusividade de parceiro (veja a crônica de Joaquim Ferreira dos Santos na pág. 39). De figuras frágeis, à espera da abordagem masculina, as mulheres partiram para um papel mais ativo, em que escolhem e interpelam, elas mesmas, os pretendentes, às vezes de forma voraz. É o que se chama na noite carioca de shark attack, ou ataque do tubarão, em português. Trata-se de uma tática em que métodos de sedução clássicos, como se fazer de difícil e recusar certas intimidades no primeiro encontro, estão absolutamente fora de questão. “O problema é que, com comportamentos como esse, os homens acham que todas as mulheres são fáceis e disponíveis, o que não é verdade”, afirma a administradora de empresas Juliana Cazarzim, 24 anos, e há pelo menos um em busca do seu príncipe encantado.

    Crônica: o bem imaterial

    A angústia vivida pelas cariocas que buscam mas não acham um namorado tem nome e definição. No início da década, o sociólogo polonês radicado na Inglaterra Zygmunt Bauman cunhou o termo “amor líquido” para definir a instabilidade que a atual geração vive em seus relacionamentos. Cada vez mais flexíveis, os vínculos afetivos geram, na opinião de Bauman, níveis de insegurança sempre maiores e uma enorme dificuldade para manter laços a longo prazo. Em uma cidade como o Rio, onde vigoram uma cultura de tolerância e até certa permissividade, é natural que os padrões de comportamento sejam mais elásticos e ma­leá­veis. Muitos dos que vêm de fora estranham. A estudante de direito Mariana Jasmin, 21 anos, nascida em Rio Bonito, interior do estado, adora as festas, os bares e todo tipo de lazer, mas ainda hoje se ressente de um relacionamento frustrado com um médico de 34 anos. “Ele tinha enorme resistência a assumir nossa relação como um namoro, um relacionamento sério, até que optei por terminar porque achei que era mais imaturo que eu”, conta ela.

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    Muitas das mulheres que hoje são independentes financeiramente e têm a possibilidade de fazer o que bem entendem sonham justamente com homens de perfil mais tradicional, com qualidades como fidelidade, discrição, estabilidade e maturidade emocional. Basta levar em conta uma enquete a respeito dos ídolos das moças ouvidas nesta reportagem para identificar justamente atores, esportistas e celebridades que seguem esses padrões e são típicos bons moços (veja o quadro à esquerda). De certa forma, eles materializam os dotes de lorde Fitz­wil­liam Darcy, personagem criado pela escritora inglesa Jane Austen em Orgulho e Preconceito, de 1813, e recentemente modernizado como Mark Darcy por Helen Fielding em o Diário de Bridget Jones. Sociólogos, antropólogos e psicanalistas não hesitam em conectar essa idealização de um parceiro praticamente inacessível a um desconforto com as recentes rupturas na lógica dos relacionamentos. “A conquista de toda essa liberdade acabou criando uma contradição. De um lado as mulheres estão mais independentes, de outro, tornaram-se extremamente exigentes na escolha do homem com quem querem viver ou estabelecer um compromisso. O felizardo tem de valer muito a pena”, explica a antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg.

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    Isso significa que uma legião de mulheres lindas está fadada a ficar solteira para sempre ou penar em busca do parceiro ideal? Não necessariamente. Quem estuda relacionamentos dá por certo que vivemos uma fase de adaptação, abalada por terremotos e tsunamis na forma como as pessoas encaram a maneira de se relacionar com os outros, mas que inevitavelmente chegará a uma fase de acomodação. “Tanto as mulheres quanto os homens ainda estão tentando entender as próprias emoções e o que querem de fato. A tendência é que com o tempo essas arestas sejam aparadas”, acredita a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da Universidade de São Paulo. Com isso, é bem provável que boa parte das moças retratadas nesta reportagem esteja acompanhada na comemoração do Dia dos Namorados do ano que vem. Pelo menos, essa é a nossa torcida.

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