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O outro lado da Broadway

Com montagem enxuta, Quase Normal, em cartaz no Teatro Clara Nunes, é um musical que vai na contramão das superproduções, mas faz sucesso assim mesmo

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 dez 2016, 15h27 - Publicado em 15 ago 2012, 20h16
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musical-01.jpg (Redação Veja rio/)
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A julgar pela ficha técnica, Quase Normal poderia ser encarado como quase um musical. Em cartaz no Teatro Clara Nunes desde o mês passado, o espetáculo leva ao palco seis atores, sete instrumentistas e três integrantes do coro. É bem menos do que o público carioca se acostumou a ver nas superproduções do gênero. A versão teatral de O Mágico de Oz, por exemplo, que cumpre temporada no João Caetano, reúne mais de cinquenta pessoas entre elenco e orquestra. Ao contrário da atração assinada por Claudio Botelho e Charles Möeller – que custou 9 milhões de reais, oito vezes mais -, Quase Normal não tem mudanças de cenário, trocas constantes de figurinos nem efeitos especiais. Estreou por aqui sem maiores alardes, embora a peça que lhe deu origem tenha faturado três das onze categorias em que foi indicada ao Prêmio Tony e levado o Pulitzer de melhor texto dramático em 2010. Suas principais virtudes são o elenco afiado, as canções que emocionam e a narrativa costurada por um belo texto. “É um daqueles fenômenos do mundo dos musicais”, afirma Tadeu Aguiar, diretor da montagem, que tem tido casa lotada.

Com libreto e letras de Brian Yorkey e música de Tom Kitt, Quase Normal apresenta um enredo denso. Gira em torno de uma mãe de família (Vanessa Gerbelli) que desenvolve transtorno bipolar após a morte do filho pequeno, o que torna problemática a sua relação com o marido (Cristiano Gualda) e a filha (Carol Futuro). A trama nada amena poderia causar rejeição do público. Mas não é o que se percebe desde que a peça estreou no circuito off-Broadway, em 2008. Logo em seu primeiro ano de exibição, mereceu críticas elogiosas. Descoberta por um produtor graúdo, ela migrou na temporada seguinte para o principal eixo teatral de Nova York, onde consolidou sua fama. “Foi na Broadway que vi a montagem. No fim do primeiro ato, eu já estava pensando em fazer uma versão”, conta Aguiar.

A trajetória de Quase Normal se assemelha à de outros espetáculos que começaram em teatros acanhados e depois estouraram em grandes salas, a exemplo de Hair e Avenida Q. “As atrações que almejam a Broadway geralmente partem da premissa de que devem reunir grande elenco, orquestra e cenários, para justificar o alto preço dos ingressos”, diz Claudio Botelho. De fato, predominam produções vultosas na meca nova-iorquina do teatro. Na década de 20, as chamadas stravaganzas levavam ao palco dezenas de mulheres, animais, comediantes e atrações circenses. A partir dos anos 80, o gigantismo contaminaria até os títulos do West End londrino, como se vê em obras como Miss Saigon, em que um helicóptero aparece em cena. Vez por outra, entretanto, uma iniciativa mais modesta ? caso de Quase Normal ? consegue romper com a ditadura do hiperbólico. Também no universo dos musicais, tamanho não é documento.

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