Neto de José Isaac Peres, dono da Multiplan, lança shopping virtual
Daniel Peres Chor segue os passos do avô nos negócios e aposta em plataforma virtual para novas marcas, além de um fundo de investimentos e de um canil
Desde cedo, três assuntos permeiam a vida de Daniel Peres Chor, de 25 anos, nos encontros e confraternizações familiares: shopping, política e remédios. “Minha família é toda hipocondríaca”, conta, divertindo-se, o neto do magnata dos shopping centers José Isaac Peres, dono do grupo Multiplan. Daniel é, ainda, filho de Dan Chor, um dos fundadores da rede de academias Bodytech, e sobrinho do construtor Rogério Chor. Com esse DNA, não houve escapatória. Aos 15 anos, enquanto os meninos de sua idade estavam jogando bola e videogame, ele pediu para trabalhar com o avô. No tempo livre, ajudava amigos da Escola Americana a recuperar contas roubadas por hackers nas redes sociais — e cobrava uma graninha pelo serviço. Daniel já teve uma loja de cosméticos no Park Shopping Campo Grande, com uma antiga namorada, mas a empreitada não deu certo. “Perdi dinheiro, o negócio e a garota. Foi um strike”, lembra. Hoje, ocupa o cargo de gerente de inovação e negócios digitais na Multiplan e arrisca seus primeiros passos na carreira-solo: o jovem empresário lançou, há quatro meses, o shopping virtual Bazzah, que reúne novas marcas cariocas de moda e decoração. Entre os sete sócios do site, todos igualmente jovens, está Antônia Chieppe Ferraço, filha do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e herdeira do Grupo Águia Branca, um dos maiores conglomerados de transporte e logística do país. A plataforma fashion vende, atualmente, peças de 160 grifes que passaram pela curadoria da turma. “Queremos nos tornar uma incubadora e aceleradora de pequenos varejistas. O objetivo é que um dia eles estejam entre os grandes”, explica Daniel.
O mais novo empreendedor da família é assumidamente metódico. Todos os dias acorda às 5 da manhã para se dedicar à leitura. Tem como livro de cabeceira O Poder da Cabala, indicação do avô, mas atualmente está lendo Os Quatro, de Scott Galloway, sobre a Apple, o Google, a Amazon e o Facebook. Às 9 da manhã, chega à sede da Multiplan, na Barra, onde fica até as 7 da noite. Nos intervalos e nos fins de semana, dedica-se ao Bazzah e a outros dois negócios: o fundo de investimento carioca Front Seat Capital, que fará aportes em áreas como biotecnologia, e o canil Vizsla Carioca, projeto que toca com o padrasto. “Somos apaixonados pela raça porque ela tem uma história muito parecida com a nossa. Assim como os judeus, os cães vizsla, originários da Hungria, foram perseguidos por Hitler porque eram considerados impuros”, conta.
Três vezes por semana, ele ainda bate ponto no escritório do Bazzah, um casarão de três andares no Joá. Na decoração, sobressai a frase “O segredo do sucesso é fazer bem-feito” em trabalho de grafite do artista Felipe Guga. “É o lema do meu avô. Ele é o cara, meu maior ídolo. Foi quem me ensinou a escutar mais e a impor menos”, afirma Daniel, que adora velejar com o patriarca pela orla carioca a bordo do iate da família. “Meu neto é um menino com capacidade criativa muito grande, inclinação comercial e habilidade extraordinária em lidar com as pessoas. É extremamente maduro para a idade dele”, derrete-se José Isaac Peres. Daniel não revela o valor do investimento no Bazzah e é taxativo quando perguntado se o avô o ajudou financeiramente: “Prefiro não comentar”. O vovô, no entanto, deixou escapar que não contribuiu nem com um tostão — Daniel inclusive vendeu seu carro para ajudar a tirar o site do papel. De abril para cá, a plataforma cresceu 350% em faturamento.
Na Multiplan, o gerente lidera o projeto de multishopping da companhia, isto é, tem estudado a possibilidade de os clientes comprarem nos malls do grupo via internet — os primeiros testes no BarraShopping devem acontecer até o fim do ano. Apesar de trabalhar na empresa da família, Daniel faz questão de estufar o peito para dizer que nada em sua vida caiu do céu e não está liderando o departamento de inovação da empresa só porque o avô o colocou lá. “Somos uma companhia de capital aberto, os acionistas cobram resultado. Estou ali porque ralo para caramba. Minha cachaça é o trabalho, não tenho talento para ser herdeiro ou playboy”, afirma. Além da educação rígida, a personalidade introspectiva do menino nascido em berço de ouro ajuda: ele não gosta de shows nem de festas. Relógios, champanhe e carrão tampouco o comovem. Workaholic, não viaja há dois anos e, por falta de tempo, também não vai ao cinema. Entre seus poucos luxos, se é que dá para chamar assim, estão cerveja (há uma geladeira com garrafas liberadas no escritório do Bazzah) e o cigarro eletrônico com essências como manga, creme brûlé e torta de limão. Daniel chegou a cursar gastronomia, economia e administração, mas nunca se formou. “O Dani absorve conhecimento com muita facilidade. A curva de aprendizado dele é incrível. Ainda não é um visionário, mas acho que aspira a ser o Jeff Bezos brasileiro”, revela o amigo Octavio Magalhães, sócio do Bazzah e de negócios de peso como o site de viagens Hotel Urbano. A frase, hoje, pode soar exagerada, mas o garoto tem estirpe — isso ninguém pode negar.