Vanessa Coelho e as amigas chegaram ao Bigode Bar por volta das 23 horas da sexta-feira 23. Esperaram na fila antes de adentrar o 1º andar, lotado de gente em torno da roda de samba. No segundo piso, o cenário de muvuca festiva era mais ou menos o mesmo. Naquela noite, cerca de 300 pessoas lotavam a casa. “Já houve dia em que a bebida acabou e eu tive de pedir à banda para parar de tocar antes da hora, para dispersar o pessoal”, confessa Carolina Accioli, gerente do pé-limpo aberto em dezembro. A cena, típica dos melhores momentos de points conhecidos, como o Baixo Gávea, a Avenida Olegário Maciel ou a Lapa, é cada vez mais comum em Vista Alegre, bairro a 20 quilômetros do Centro, às margens da Avenida Brasil. Na região, espremida entre o Irajá e a Vila da Penha, floresce intensa vida noturna. Ao longo dos últimos dois anos, a Avenida Brás de Pina ganhou mais de quinze restaurantes e bares no pequeno trecho limitado pela Estrada da Água Grande e pelo Largo do Bicão. “Crescemos na contramão da crise”, comemora Luiz Adriano de Andrade, dono de quatro negócios abertos por ali no período. Com quase trinta estabelecimentos, o polo de comes e bebes funciona até as 4 da matina nos fins de semana, quando recebe cerca de 10 000 pessoas por dia. O cálculo é da empresa Claro, que planeja oferecer wi-fi grátis na região em troca da exposição da marca.
A novidade das noites cariocas é motivo de orgulho para os que vivem no entorno. “Quem é daqui não precisa mais ir à Zona Sul ou à Barra para se divertir”, resume Vanessa. A frequentadora do Bigode Bar ainda chama atenção para os preços acessíveis. O chope, que passa facilmente dos 7 reais nos balcões do Leblon, enche tulipas por metade desse valor em Vista Alegre. A oferta é variada. Menos de três minutos de caminhada separam a hamburgueria TK, a butique de carnes Bendito Jamón e o restaurante japonês Waki Sushi. “Dá para conhecer um lugar diferente a cada visita”, conta o funcionário público Bruno Barbosa, que bate ponto por ali ao menos uma vez por mês. Ele não exagera. A lista de atrações (veja as novidades no quadro acima) vai dos quarenta tipos de azeite do Empório Marine ao cardápio de petiscos do chef paulista Leo Pietro, à frente do bar esportivo Quintô — onde, aliás, o consumo semanal de chope cresceu de três para quinze barris desde a abertura, em abril do ano passado. O vaivém de gente já causa dificuldades de estacionamento, mas, por outro lado, proporciona uma sensação de segurança, confirmada pelas estatísticas. São raros os registros de assalto, briga ou confusão nos últimos três anos.
A menos de 1 quilômetro do agito, o Bairro Araújo é um condomínio de luxo protegido por cancelas e seguranças, com casas à venda por mais de 1 milhão de reais. Segundo levantamento da prefeitura, feito em 2015, 38,14% dos moradores de Vista Alegre e arredores têm ensino superior — índice acima da média da cidade (31,12%). “O subúrbio tem pessoas com grana e interessadas em consumir, mas com pouca oferta de bons produtos e serviços onde moram”, resume Thiago Reis, fundador da Barbearia do Zé. Em dezembro, ele e sócios investiram 600 000 reais na abertura de uma unidade na Avenida Brás de Pina. Com um mural que traz a Igreja da Penha, o Parque Shangai e outros ícones das redondezas, a loja homenageia o Zé que inspira a marca, avô de Thiago e antigo morador de Vista Alegre. O bairro nasceu como um projeto imobiliário de 400 casas, em 1954, cercado de chácaras. Com o passar dos anos, o cenário rural deu lugar à paisagem urbana — e o sossego de outrora, ao que tudo indica, foi substituído pela animação do mais novo point da cidade. ß
O mapa da mina
Endereços recém-inaugurados no polo de Vista Alegre