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Dois milhões de gringos

O número de viajantes vindos do exterior bateu recorde histórico no ano passado e deve aumentar até a Copa e a Olimpíada. Nosso desafio agora é receber bem essa multidão

Por Letícia Pimenta
Atualizado em 5 jun 2017, 14h13 - Publicado em 15 jan 2013, 15h28
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    A americana Tawnya Christian, 33 anos, sócia de duas academias de ginástica em Las Vegas, sempre sonhou ver de perto a queima de fogos de Copacabana. No segundo semestre de 2012, decidiu que era o momento de realizar o velho desejo. Passagem comprada, visto no passaporte e quarto reservado no Sheraton, ao lado do Morro do Vidigal, ela pisou pela primeira vez em solo carioca em 28 de dezembro. Tawnya assistiu ao foguetório da cobertura do hotel JW Marriott e deslumbrou-se com a festa. “Até sir Ben Kingsley estava lá”, recordava ela na semana passada, referindo-se ao ator inglês que, nos anos 80, ganhou um Oscar por interpretar Gandhi no filme homônimo. Por onze dias, ela cumpriu o roteiro clássico com o Pão de Açúcar, o Corcovado e as praias da Zona Sul. Passeou pelas lojas da Rua Visconde de Pirajá e comeu nos restaurantes da Dias Ferreira. Animada, aproveitou e deu uma esticadinha até Búzios. Encerrada a temporada de férias, era só elogios. “Eu mal posso esperar para voltar. Estou pensando seriamente em vir para a Copa do Mundo ou para a Olimpíada”, contou.

    ilustração Vanessa Reyes
    ilustração Vanessa Reyes ()

    A loira empresária dos Estados Unidos faz parte de uma multidão de viajantes vindos dos quatro cantos do mundo que aproveita o bom momento da cidade para passear por aqui. Computados os dados de desembarques aéreos e marítimos, mais de 2 milhões de visitantes estrangeiros vieram se divertir no Rio de Janeiro no ano passado. Trata-se de um número que impressiona, seja pelo total simbólico, seja pela evolução em relação aos anos anteriores. A quantidade de gringos que passaram pela capital em 2012 é o dobro da do ano anterior e quase o triplo dos 760?000 registrados em 2008. Indicadores e rankings também atestam o aumento na nossa visibilidade internacional. No último ano, ficamos em primeiro lugar no Índice Mastercard de Destinos Globais, levantamento que classifica 132 cidades com base no número de viajantes e nos gastos com cartão de crédito. Segundo a pesquisa, o Rio cravou o maior crescimento no número de turistas internacionais (28,6%), à frente de metrópoles como Tóquio (21,5%). Em média, um estrangeiro deixa aqui 97 dólares por dia de visita (20 a mais do que o gasto médio no resto do país). “É inegável que vivemos um momento excepcional, com um calendário forte de eventos que atrai a atenção para nós. Mas é justamente em situações assim que fica evidente que ainda há muito a ser feito”, afirma o secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello.

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    Um simples giro pelas grandes atrações turísticas revela o longo caminho que temos a percorrer para dar ao Rio o status de um destino de primeira linha. Passeio obrigatório para quem vem, seja brasileiro, seja de fora, a subida ao Cristo Redentor, na alta temporada, pode exigir até cinco horas, um verdadeiro exercício de abnegação. No Pão de Açúcar, a segunda maior atração, o sacrifício é um pouco mais brando, e a fila para embarcar até o Morro da Urca demora, em dias mais agitados, até três horas, sem contar a espera sob o sol escaldante para a próxima etapa da viagem ao cume da montanha. Em nenhum dos dois lugares é possível adquirir ingressos antecipadamente pela internet, como acontece na Torre Eiffel, em Paris, e no Empire State Building, em Nova York. Quem se aventura por conta própria em busca de experiências mais autênticas vive fortes emoções, nem sempre boas. Motoristas de ônibus dirigem sem respeitar limites de velocidade nem regras básicas de trânsito. O metrô padece de problemas como lentidão e superlotação. O serviço de táxi é desastroso nas áreas de grande fluxo de visitantes, que se tornam presas fáceis de maus profissionais, esticando os percursos e cobrando acima da tarifa prefixada. Para o gerente de projetos holandês Henry de Vries, 44 anos, a semana de férias que passou aqui no início de dezembro foi uma oportunidade para tomar contato com um lugar que definiu como “fascinante”. Mas ele não titubeia em apontar o que o desagradou no passeio. “Os motoristas de ônibus dirigem como loucos. Fiquei horrorizado”, afirma.

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    As autoridades e empresas responsáveis pela administração de pontos turísticos conhecem as mazelas de longa data e prometem mudanças para evitar vexames durante a Copa e a Olimpíada. Entre 12 de junho e 13 de julho de 2014, deverão passar por aqui 430?000 visitantes, contra os habituais 160?000 que circulam nessa época do ano. Na temporada olímpica, entre 5 e 21 de agosto de 2016, serão mais de 500?000. Até lá, a metrópole precisa estar pronta para receber essa multidão com segurança, transporte de qualidade e prestação de serviços eficiente. Isso inclui, por exemplo, aprimorar o treinamento dos funcionários dos centros de informação turística, onde é comum deparar com atendentes mal-humorados, desinformados e monoglotas. Na área de transportes estão programados cursos de reciclagem para os 18?000 motoristas de ônibus do município e prêmios para aqueles que se destacarem no serviço. Para os taxistas, a prefeitura estuda um convênio com o Sesc e o Senac em programas de requalificação a partir do segundo semestre de 2013, com ênfase em três pontos: informação turística, cordialidade e segurança na direção do veículo. “A qualidade na prestação do serviço nunca foi uma preocupação no Rio”, aponta o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório. “Nosso objetivo é atender a 100% das frotas, mas isso é um trabalho de longo prazo.”

    No Corcovado e no Pão de Açúcar, algumas melhorias já estão em curso. Até dezembro, quem for subir ao Cristo Redentor terá à disposição um estacionamento no Cosme Velho, cedido pela prefeitura, com capacidade para 300 carros e dez ônibus de turismo. No ano da Olimpíada, mais quatro trens serão incorporados aos sete atuais, dobrando a capacidade de passageiros para 720 por hora, em um investimento de 64 milhões de reais. Na Urca, um novo sistema de catracas para o controle de acesso entra em operação a partir de março. Em 2014, deve começar a venda de ingressos pela internet para o bondinho. O tumulto do entorno, com estacionamento dominado por flanelinhas e vendedores ambulantes importunando os turistas, pode ter fim em breve. A prefeitura vem testando um novo modelo de organização da área. Fechou o estacionamento, abrindo espaço para as filas, e fez uma mão-inglesa para os carros junto às praças, apenas para desembarque de quem tem dificuldade de locomoção. “Essa medida já deu uma nova sensação de organização e segurança”, diz Maria Ercília Leite de Castro, diretora-geral da concessionária do teleférico.

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    A expansão do setor de turismo no Rio acontece em um momento em que essa atividade econômica ganha destaque em outras grandes cidades do mundo. Em Nova York, desembarcam anualmente 11 milhões de estrangeiros (entre eles, 600?000 brasileiros, a quarta nacionalidade com o maior número de visitas, atrás apenas dos ingleses, canadenses e franceses). Por lá, o gigantesco fluxo de turistas foi visto como uma compensação para a recessão deflagrada pela crise financeira de 2008. Em um esforço pessoal do prefeito Michael Bloomberg, que enxergou no turismo uma poderosa fonte de renda (produz cerca de 47 bilhões de dólares anuais), a capacidade hoteleira local foi expandida de 72?000 para 90?000 quartos entre 2006 e 2011. Em 2011, o setor empregava 320?000 pessoas na Big Apple, 6?500 a mais que no ano anterior. Enquanto os Estados Unidos perderam 6% dos empregos no setor privado durante a crise, Nova York teve uma baixa de somente 0,3% nos postos de trabalho e os recuperou rapidamente graças à chamada indústria sem chaminés.

    Embora seja importantíssimo do ponto de vista econômico ? como o exemplo nova-iorquino deixa bem claro ?, o setor de turismo ainda é subestimado por aqui. Guardadas as proporções, o Rio segue uma curva ascendente semelhante à da maior cidade dos Estados Unidos, com muitos erros por corrigir, mas no caminho certo para deixar visitantes boquiabertos com sua beleza e um estilo de vida alegre e despojado. Que o diga o norueguês Lars Marius Lauten, 30 anos, que chegou em 30 de dezembro e retornou a Oslo, onde vive, em 6 de janeiro. Assim que desembarcou, percorreu a lista obrigatória dos guias de viagens e foi ainda a Santa Teresa, à Lapa e até à Rocinha, que depois de pacificada virou polo de estrangeiros interessados no favela way of life, como eles falam. E resumiu, como tantos outros, ao encerrar sua temporada carioca: “Eu amei a cidade. Estou louco para voltar”.

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