Bolinhas de tênis de mesa: 6 500. De tênis: 32 000. Grades? O suficiente para cobrir uma linha de 200 quilômetros de extensão. Tudo nos depósitos que compõem o centro de logística da Rio 2016 é grandioso (veja números do estoque no quadro abaixo). Parte do complexo, um galpão menor na Barra ocupa 15 000 metros quadrados e é usado para abrigar móveis. Em Duque de Caxias fica a nave-mãe — uma construção com área total de 90 000 metros quadrados, 75 000 deles cobertos, além de espaço de carga e descarga para receber, simultaneamente, até 120 caminhões. O município da Baixada Fluminense foi escolhido por atender a um dos requisitos exigidos pelo Comitê Olímpico Internacional. É relativamente equidistante dos locais das provas. Não fica a mais de quarenta minutos de viagem de nenhum dos destinos, levando-se em consideração o sossego no trânsito prometido para os dias de competição. No momento, porém, a cerca de dois meses da cerimônia de abertura, o ritmo por lá já anda mais para o frenético.
O galpão em Caxias foi construído para os Jogos — primeiro inquilino da estrutura levantada na paisagem que antes se resumia a um lamaçal, o Comitê Olímpico Brasileiro ocupou o endereço em julho de 2015. Hoje, a movimentação está a pleno vapor, mas passa despercebida pela vizinhança. Por óbvias razões de segurança, a construção, de uso exclusivo, não ostenta nenhum tipo de identificação e é coalhada de câmeras, entre outros sistemas de vigilância. Lá dentro, em pilhas de altura equivalente a até sete andares de um prédio (21 metros), acomodam-se três tipos de material: tecnológico (computadores, celulares etc.), mobiliário e esportivo. Na terceira lista, a organização do que chega é feita por modalidade. Graças às já citadas duas centenas de quilômetros de grades, o ciclismo garantiu o ouro na categoria de esporte mais espaçoso. Parte dessas montanhas vem sendo distribuída para os eventos-teste, o que só aumenta o trabalho: desde janeiro, foram realizadas 23 competições, de halterofilismo a natação, passando por esgrima e ginástica artística.
“Estou trabalhando de domingo a domingo, doze horas por dia, com o celular ligado o tempo todo”, conta Maurício Gonçalves. Gerente de serviços e logística da Rio 2016, ele comanda uma frota de 200 caminhões e um exército de 2 000 profissionais treinados pelos Correios, empresa contratada para fornecer mão de obra e planejamento. No auge da trabalheira, 400 funcionários vão atuar em Caxias. Apesar de todos os cuidados, a rotina reserva surpresas. Foi o caso dos obstáculos do hipismo, que chegaram em contêineres e, na hora de ser guardados, revelaram-se maiores e mais pesados do que o previsto. O detalhe descoberto em cima da hora resultou em dor de cabeça na manipulação do equipamento. Maior preocupação, no entanto, inspiram aparelhos como os notebooks preparados para cronometrar e monitorar as competições. “Em geral, temos três unidades. Uma para a área de aquecimento, outra para a apresentação e uma terceira de reserva. Todo o cuidado é pouco”, diz Gonçalves.
Entre barcos, roupas de cama, ambulâncias para transportar cavalos, geladeiras, petecas e tudo o (muito) mais necessário para a realização de uma olimpíada, o gerente de serviços e logística sabe que o mais difícil ainda está por vir. “O galpão ficará completamente lotado quando os Jogos terminarem. Aí começa a parte mais complexa de nossa tarefa”, avisa. Após a cerimônia de encerramento, o material que chegou e foi distribuído em etapas será novamente armazenado e, então, preparado para o envio ao seu destino final. Trata-se, no caso, da movimentação de um montante estimado em 30 milhões de objetos, de formas, pesos e tamanhos variados. “Os móveis, por exemplo, vêm desmontados e, depois de montados, ocupam três vezes mais espaço.” A operação que começa com o fim das provas é tão grande que tem equipe própria: um Comitê de Dissolução. “Até dezembro, tudo tem de estar resolvido”, informa Gonçalves. Merece ou não merece uma medalha?