Um silêncio desolador costuma tomar conta da plateia no fim das sessões de Eu, Daniel Blake. Não se trata, absolutamente, de reação negativa ao belo e triste filme de Ken Loach, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e a caminho da quinta semana de exibição na cidade. A atitude dos espectadores é a única possível para quem tem coração: em resumo, o longa acompanha a luta inglória do personagem do título, um carpinteiro que, depois de sofrer um infarto, é proibido de trabalhar, por ordem médica, e enfrenta um calvário de dificuldades para receber o auxílio financeiro a que tem direito. Na sua epopeia anônima, Blake (o ator Dave Johns) esbarra em toda sorte de entraves mas também troca gestos de solidariedade com gente que passa por situação parecida. Esse mesmo sentimento de desamparo e frustração, que, no drama de Loach, emana da tela e contamina o público, é (ou deveria ser) provocado pela foto acima, publicada na primeira página da edição do jornal O Globo da última quarta, dia 1º. Na imagem, o fotógrafo Antonio Scorza flagrou, com sensibilidade, cidadãos à espera de sua vez para requerer o seguro-desemprego. A nossa fila só faz crescer. Como em todo o país, as taxas de desocupação no Estado do Rio subiram ao longo de 2016. Segundo dados do IBGE, esse triste índice saltou de 8,2% da população entre julho e setembro de 2015 para 12,1% no mesmo período do ano passado. Dados oficiais mais atualizados sobre os trabalhadores fluminenses devem vir a público no próximo dia 26, mas nenhum especialista aposta em boas-novas. Em setembro do ano passado, havia quase 1 milhão de pessoas (992 000) desocupadas — termo técnico para a massa à procura de emprego — em território fluminense, um exército que engordou 49,2% em relação ao mesmo período de 2015. Para quem vive esse drama, resta o consolo do diretor Ken Loach. “O Estado cria a ilusão de que, se você é pobre ou desempregado, a culpa é sua”, afirmou o cineasta, em entrevista recente. Não é.