O estrondo, no fim da madrugada de uma segunda-feira, foi ouvido em várias partes do bairro. Quem teve o sono interrompido pelo susto pensou logo na explosão do posto de gasolina. Ou, vá lá, na guerra de quadrilhas com forte poder bélico. Mesmo moradores do próprio Edifício Canoas, acordados entre escombros, demoraram para entender que um vazamento de gás no vizinho número 1001 levou à destruição parcial, e à interdição total, do condomínio em São Conrado. A tragédia, que matou o dono do imóvel, o alemão Markus Müller, completou um ano na quarta, 18. Com orçamento de 7 milhões de reais bancado pela seguradora, as obras de recuperação ainda não chegaram ao fim. A previsão é que, até julho, 63 dos 72 apartamentos estejam prontos. As nove unidades mais atingidas não serão liberadas antes de outubro. Há um ano, portanto, cerca de 300 moradores dos dezenove andares do prédio buscam se virar da melhor maneira possível. Alguns refizeram a vida em outro lugar, mas, na lembrança desse triste aniversário, sobraram entrevistas de gente que vive na casa de amigos, de parentes, e que carrega parte do guarda-roupa na mochila ou na mala do carro. O Canoas ainda exibe vários trechos da fachada destruídos, em um tributo macabro ao descuido. Perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, órgão do governo do estado, mostrou que o vazamento foi provocado por um simples rabicho mal instalado. Bastou uma faísca, que provavelmente veio de um interruptor, para o desastre se consumar. A propósito: obrigatória por lei desde setembro de 2014, a inspeção nas redes de gás de endereços residenciais e comerciais só foi realizada, desde então, em 7,93% do total de clientes da Companhia Estadual de Gás (CEG), que somam cerca de 1 milhão. Não ajuda muito o fato de existir, hoje, apenas três empresas credenciadas para a tarefa.