Eduardo Paes: “Vamos terminar tudo dentro do prazo e do custo”
Em bate-papo com moradores, prefeito falou sobre as intervenções e o legado de Rio 2016, segurança e saneamento básico
O prefeito Eduardo Paes prometeu nesta segunda (29) que todas as obras das Olimpíadas de 2016 ficarão prontas dentro do prazo e do orçamento estipulado. Em um bate-papo com moradores de São Conrado no shopping Fashion Mall, ele garantiu ainda que o bairro não sofrerá mais com a língua negra na praia no próximo verão. Descontraído e muito à vontade, Paes fez piadas, alfinetou o governo federal e as denúncias da Operação Lava Jato e pediu que os cariocas não abandonem a cidade. Confira abaixo os tópicos abordados pelo prefeito:
- Rio 2016
Não saiam de casa (risos). O pessoal fala que a Copa foi um sucesso, eu acho que foi uma tragédia porque reforçamos os estereótipos que todo mundo já conhece: que somos um povo alegre, receptivo, sabemos fazer festas, não temos planejamento, as obras custam o dobro, tudo é feito em cima da hora. Não conseguimos trazer nenhum atrativo novo. Em 2009, ganhamos porque falamos para o comitê ‘se vocês querem que Olimpíadas seja sinônimo de mudança, venham para o Rio que estamos cheios de problemas’. As outras cidades eram perfeitas, esse foi o grande atrativo do Rio. O mais legal é poder consolidar a imagem lá fora.
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- Orçamento das Olimpíadas
O orçamento está em 37 bilhões de reais. Na candidatura estavam previstos 18 bilhões, mas não tinha VLT, Porto Maravilha, nem Linha 4, estamos entregando mais do que o legado prometido no livro da candidatura. Desse total, 43% são da iniciativa privada. As três maiores PPPs (parceria público-privada) do Brasil são feitas pela Prefeitura do Rio. Não custou nada para prefeitura derrubar a Perimetral, construir o Museu do Amanhã, e mais três túneis no Centro. Nós vamos terminar tudo no prazo e no custo. A lei permite um aditivo de até 25% nas obras, porque imprevistos acontecem. Ninguém está vendo uma obra da cidade do Rio parada. A prefeitura não atrasa, não deixa de fazer investimento ou dar aumento aos servidores.
- Legado do Pan e das Olimpíadas
O Maria Lenk é usado pelo COB e para treinamento de atletas de alto rendimento. O Engenhão, até o problema com a cobertura, era usado com frequência. O único local abandonado do Pan foi o velódromo. Para 2016, o que não seria usado como legado será construído de forma temporária. O estádio de handebol será transformado em quatro escolas públicas. O de natação, vira dois ginásios com piscinas para cidades da Baixada, o de canoagem slalom será um super parque público nos moldes de Madureira. Os estádios são todos bonitos, funcionais, mas simples. Não tem Ninho do Pássaro como na China. Já estamos licitando os blocos que vão sobrar do Parque Olímpico depois dos Jogos. Barcelona se transformou com as Olimpíadas (1992), o Rio vai mudar mais ainda.
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- UPP e segurança
Dormi pela primeira vez na Gávea Pequena em abril de 2009. O melhor caminho para a prefeitura (na Cidade Nova) é pela Tijuca e ao descer o Alto, o motorista pegou a Conde de Bonfim. Pedi para ele ir pela São Miguel (que passa pelo morro do Borel), mas ele informou que a segurança não permitia. Fiquei um ano e meio como prefeito da cidade sem poder passar por uma rua por causa da violência. E meus antecessores provavelmente também não passavam. Com a pacificação, eu passei a ir por lá e faço o mesmo caminho desde então, espero que meus sucessores também o possam fazer. A criminalidade do Rio não é normal porque tem o problema de território dominado, o Estado perde o comando. Isso só tem aqui. O negócio da droga é lucrativo, o controle de território também. A milícia é a maior prova de que a segurança pública tem jeito. Como pode uma favela dominada por bandidos ser tomada por cinco policiais à paisana? Passamos muito tempo justificando a violência por causa da desigualdade social, porque é mais fácil e politicamente correto. A Maré, por exemplo, é um bairro, poucas comunidades são favelas. São 40 escolas municipais, 100% da população atendida pelo programa Saúde da Família, coleta de lixo diária, ruas urbanizadas. No Bairro Esperança, tem complexo habitacional, escola, praças públicas, transporte fácil e tem violência. Não é questão social, é convênio das forças de segurança com o tráfico. O Cesar Maia e o Conde urbanizaram quase todas as comunidades da Tijuca com o Favela Bairro. Todos os índices sociais do Brasil melhoraram e a violência só aumenta. A gente continua com o diagnóstico errado.
- Presidência em 2018
Eu sou o cara mais feliz do mundo porque sou prefeito do Rio. Faço parte de uma geração que viveu a degradação da cidade. Curto muito estar aqui e poder cuidar do Rio, devolver a confiança aos cariocas, todo dia ainda me belisco ao acordar. Vou viver intensamente até 31 de dezembro de 2016, quero mostrar para todo mundo que nem todos os brasileiros são ladrões, que nem todos pegam dinheiro de empreiteiros. Queria muito ser prefeito para sempre, mas não pode. Quero que os meus filhos tenha orgulho do pai deles como prefeito. O mais natural seria eu me candidatar ao governo do estado, mas não faço nada pensando nisso. Eu tenho certeza que a Dilma e que os outros prefeitos morrem de inveja de mim.
- Língua negra na praia de São Conrado e saneamento básico
O que aconteceu foi um atraso nas obras, contratadas pela Rio Águas. Mas já foram retomadas e devem terminar dentro de dois ou três meses. No próximo verão, já não teremos mais esse problema. Se tem uma coisa patética no Rio, é a agenda de saneamento. Não é nem do século XX, é do século XIX! O saneamento da Zona Oeste veio todo para prefeitura, em 15 anos teremos 100% de esgoto tratado. O abastecimento de água continua da Cedae (governo do Estado). É patético em pleno século XXI estarmos discutindo essa agenda de que a rede pluvial mistura com a rede de esgoto. É falta de vergonha na cara.
- Metrô
As pessoas acham que o metrô na Zona Sul é só para rico. Mas os grandes polos geradores de emprego estão na Barra, Zona Sul e Centro. O metrô é para todo mundo.
- Ciclovia
A Niemeyer completa 100 anos em 1º de janeiro de 2016, a ideia é inaugurar a primeira parte da ciclovia dia 31 de dezembro deste ano. A parte do Joá até a Barra deve ser entregue entre março e abril de 2016.
- Hotel Nacional
Quando o Rio foi escolhido para as Olimpíadas em 2009, tínhamos um problema na questão hoteleira. Começamos a dar incentivos urbanísticos e fiscais para esse setor. Para o Hotel Nacional, perdoamos a dívida e permitimos a construção de uma segunda torre. O grande desafio para quem assumiu é que se ele não ficar pronto a tempo das Olímpiadas, eles vão perder esses benefícios. A previsão é para meio de 2016. Usamos as Olimpíadas como argumento para melhorar a cidade, não é um grande problema se não ficar pronto a tempo, será um dos legados.
- Protestos 2013
Em 2013, foram os filhos da burguesia que foram para a rua criticar a militarização das forças policiais. Humilharam e constrangeram os policiais. Não foram pobres. Os mais beneficiados pela política de pacificação são as pessoas que estão no morro e não no asfalto. Quem mais sofre com a violência são eles.
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- Trânsito
Cidades e carros não tem solução, não tem mais vias para abrir. Precisa investir em transporte de alta capacidade. O morador do subúrbio já prefere deixar o carro em casa e usar o BRT.
- Sair da cidade pela violência
O Rio é especial, o estilo de vida é único. Não podemos desistir da cidade nem perder a capacidade de crítica, temos que cobrar mas sem maltratar o Rio. Os erros são dos governantes e do povo. A cidade não fia suja porque tem pouco gari, pelo contrário, a Comlurb é o terceiro maior orçamento, temos 19 000 garis. Essa cidade merece a nossa aposta.