A queda no número de doações tem feito ONGs que dependem delas para funcionar ficarem à míngua, quase sem alimentos para distribuir. Segundo o G1, Robenia da Silva, fundadora do Instituto Doando Esperança, em Campo Grande, não sabe mais a quem recorrer. No café da manhã, pães e biscoitos foram comprados com o pouco dinheiro que sobrou do projeto que atende pessoas carentes. Mas na cozinha, o gás está acabando, a geladeira está vazia e restam menos de três quilos de arroz e um pacote de açúcar.
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“Hoje, nós estamos sem poder fazer nossas atividades fixas porque a gente não está conseguindo doação. Aqui no projeto são assistidas mais de 150 famílias. Só que no momento, menos de 70 famílias estão sendo atendidas, porque não conseguimos doações. A gente está vivendo dia após dia, esperando ajuda, batendo de porta em porta, para tentar ajudar quem está em pior situação”, disse Robenia ao portal de notícias. A falta de mantimentos afeta Maria da Guia, que trabalha como ambulante, e os nove filhos dela, que são ajudados pela ONG. “Isso aqui não pode fechar. Até porque, a ONG ajuda muita gente. Se fechar, todo mundo não sabe nem como vai viver”, disse a ambulante.
Não é um problema isolado. A ONG Semente do Futuro, em Bangu, vive situação semelhante. Durante a pandemia, a ONG distribuiu alimentos e kits de higiene para as famílias das 240 crianças atendidas. E para outras que precisavam, no bairro. Mas a ajuda parou de chegar, como contou a diretora da ONG, Tia Selminha. “Nós recebíamos 250 cestas semanais. Passaram a ser 100 cestas semanais, depois 50. E agora, até abril, eram 25 cestas mensais. Depois de abril, cessaram, agora está zerado. E a condição das famílias, que já era ruim, agora piorou ainda mais. Então, fome, as pessoas sentem todos os dias”, contou ela. A instituição oferece cursos para famílias e atividades de educação, esporte e arte para crianças e adolescentes. Mas, para tudo isso funcionar, ela também depende de doações. Essa é a mesma condição do Instituto Anjinho Feliz, na Cidade Nova, no Centro do Rio. A ONG também oferece cursos e doa mantimentos. Quatrocentas famílias de 13 comunidades da região são atendidas. Mas com a alta dos alimentos e a diminuição de 65% nas doações, a situação da instituição é difícil.
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A Casa Fluminense acompanhou o aumento dos preços da cesta básica no Rio. Em abril de 2019, ela custava R$ 515. Aumentou para R$ 768, em abril deste ano. O valor mais alto já registrado e que representa 60% do salário mínimo. “Quando a gente fala de fome, é importante falar do desemprego. Desemprego é um dos fatores que vai influenciar essa situação. No estado do Rio de Janeiro, quando a gente olha o primeiro trimestre de 2022, a taxa de desocupação do estado é de 14,9%. É impossível a gente falar de superação da fome, de superação do desalento, de superação do emprego, sem a gente falar de superação dessas condições”, disse Cláudia Cruz, coordenadora de informação da Casa Fluminense.