Não há meio-termo. As opiniões sobre a Olimpíada carioca dividem-se entre os muito contra e os muito a favor. O curioso é que as notícias da última semana enchem de razão os dois lados da contenda. Vejamos. No domingo, 24 de julho, a euforia em torno da inauguração da Vila Olímpica foi empanada pela recusa da delegação australiana em ocupar seus aposentos — sob a razoável alegação de que vazamento de água, cheiro de gás e curto-circuito na rede elétrica não são o melhor cartão de boas-vindas. Veio a segunda-feira e o registro da chegada de alegres multidões, que, espalhadas pelas ruas, já começam a mudar a cara da cidade, dividiu espaço no noticiário com a apreensão de drogas na Lapa, vendidas em lamentáveis saquinhos com o logotipo olímpico. Ao longo da semana, continuou a disputa na modalidade ciclotímica. A Justiça suspendeu a salgada multa de 1 500 reais para quem andar de carro pelos 260 quilômetros de faixas olímpicas na cidade, mas uma liminar restituiu a pesada cobrança 24 horas depois. Em um dia, o suíço Roger Federer, estrela do tênis, anuncia que um problema no joelho vai tirá-lo da Rio 2016. No outro, o corredor jamaicano Usain Bolt, sério candidato a principal atração dos Jogos, desembarca em um aeroporto com jeito de salão de festa, animado por bandinha de música típica para recepcionar atletas da Coreia do Sul. Bem longe do Galeão, na outra ponta do BRT Transoeste, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego flagraram mais de 600 profissionais sem carteira dando expediente na Vila. Na orla de Copacabana, multidões de forasteiros felizes tiram selfies, enquanto jornalistas australianos (sempre eles) sofrem uma tentativa de assalto. A poucos dias da cerimônia de abertura, resta a esperança de que os ufanistas e os profetas do apocalipse se juntem na mesma torcida quando os Jogos começarem. Ou, pelo menos, mudem de assunto.
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