Como efeito colateral do processo de racionalização das linhas de ônibus promovido nos últimos dois anos, moradores do Rio Comprido passaram a ter dificuldade para usar transporte público na ida e na vinda de casa. No mesmo bairro, um poste ameaçava cair após ter sido alvejado em um tiroteio. Os dois problemas, bem típicos da cidade nos dias de hoje, foram solucionados pelos órgãos competentes, mas só depois de muita gritaria virtual. Foram tantas as reclamações on-line que a Secretaria de Transportes determinou a criação de uma nova linha para atender os passageiros locais, e a Light, enfim, agendou dia e hora para efetuar a troca do equipamento danificado. Em ambos os casos, as demandas foram encampadas (e amplificadas) pelos administradores da Rio Comprido Alerta, uma entre tantas páginas do Facebook que vêm funcionando como uma nova espécie de associação de moradores. “Recebemos muitas reclamações sobre questões como falta de luz, esgoto, problema de lixo, segurança. Entramos em contato direto com as empresas e, muitas vezes, conseguimos resolvê-las”, conta Marcelo Souza, auxiliar técnico que há dois anos criou a página.
No país com o maior número de usuários na América Latina — 93,2 milhões de brasileiros conectados às redes sociais —, o fenômeno da multiplicação dos sites é compreensível. Parte dessa enxurrada, endereços temáticos dedicados a bairros da cidade conquistam curtidas e público fiel ao receber alertas, denúncias e queixas diversas. A Madureira News tem mais de 100 000 seguidores, enquanto a Jacarepaguá Notícias ultrapassou os 250 000. “Primeiro, sugerimos a ligação para a Central de Atendimento da Prefeitura, no número 1746, e a espera pelo prazo definido. Se isso não adiantar, entramos em ação com a superintendência da região”, explica o administrador do site da Zona Oeste, que prefere não se identificar. “Hoje em dia, falo diretamente com os comandantes dos batalhões da Polícia Militar em nossa área de atuação”, conta. Nem todas as demandas, porém, são atendidas de forma rápida. Souza, da página do Rio Comprido, reclama que há meses cobra da prefeitura uma solução para conter barracas ilegais instaladas na Praça Condessa, aos sábados, dia de feira. Por meio de nota, a Secretaria de Fazenda informou que vai fiscalizar o local e, caso sejam constatadas irregularidades, poderá multar e apreender as mercadorias.
Criadas originalmente para ajudar a combater e a prevenir a violência, as comunidades do Facebook entraram na mira de algumas empresas, que já perceberam a importância de se aproximar dessas novas organizações da sociedade civil. “As páginas dos bairros tornaram-se uma importante via de relacionamento”, reconhece Giuliane Calvi, gerente de comunicação corporativa da Light. Os grupos voltados para moradores, além de ajudar a resolver os problemas da vizinhança, parecem ser um negócio promissor. O administrador Pedro Fróes, criador do Alerta Leblon, já gerencia outras quatro páginas (Gávea, Ipanema, Copacabana e Botafogo) e planeja lançar mais três ainda no primeiro semestre — Laranjeiras, Flamengo e Centro. Além de ganhar dinheiro com anúncios de empresas e comerciantes locais, Fróes se associou a uma agência de publicidade, que vai produzir conteúdo para a plataforma, e ainda curte momentos de fama depois que começou a bater panela na internet. “Na rua as pessoas me reconhecem, me dão presentes e agradecem”, diz, orgulhoso.