Residência oficial do governador, palacete erguido a partir dos delírios de um milionário no início do século XX, entra na fase final das obras de conservação
Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 12h18 - Publicado em 25 dez 2015, 00h00
Símbolo de uma época em que o Rio de Janeiro via na França um modelo a ser seguido, o Palácio Laranjeiras começa a exibir, ainda entre andaimes e muita poeira, o antigo brilho que ostentava no passado. Erguido a partir de um projeto arquitetônico delirante, com o que havia de mais requintado em termos de material e acabamento, o casarão é fruto do capricho do milionário Eduardo Guinle (1878-1941). Um dos homens mais ricos do país no início do século XX, ele se propôs a construir uma residência principesca que não ficasse a dever nada a congêneres europeias. Segundo estimativas, as obras teriam consumido até a conclusão, em 1914, 1 milhão de dólares — o equivalente a 24 milhões de dólares de hoje, ou 93 milhões de reais. Tal obsessão contribuiu para a ruína do milionário, que devastou sua fortuna ao construir o palácio. Atualmente, o prédio centenário é destinado à residência oficial do governador, mas desde 2007 não é utilizado para esse fim. A partir de 2012, o governo fluminense passou a conduzir um extenso programa de restauração com o objetivo de devolver ao imóvel o esplendor de outrora. O plano é garantir o máximo de fidelidade ao projeto original, com intervenções que têm contemplado desde a reparação da estrutura do telhado até o delicado processo de limpeza das pinturas que adornam as paredes dos salões.
1/7Eduardo Guinle exigiu que as águias da fachada fossem maiores do que as do Palácio do Catete, sede da Presidência da República na época. O processo de restauro externo promoveu uma limpeza e a aplicação de uma camada de massa de cal e areia na fachada, como a usada na construção(Felipe Fittipaldi)
Eduardo Guinle exigiu que as águias da fachada fossem maiores do que as do Palácio do Catete, sede da Presidência da República na época. O processo de restauro externo promoveu uma limpeza e a aplicação de uma camada de massa de cal e areia na fachada, como a usada na construção
2/7As pinturas que forram os tetos do palácio foram feitas a partir de uma técnica que cola uma tela sobre o revestimento. O restauro não só recupera as cores como também conserta cortes no tecido e renova a douração(Felipe Fittipaldi)
As pinturas que forram os tetos do palácio foram feitas a partir de uma técnica que cola uma tela sobre o revestimento. O restauro não só recupera as cores como também conserta cortes no tecido e renova a douração
3/7A suntuosidade da construção é visível até mesmo na área de serviço do palácio. A copa e a cozinha são ricamente decoradas com azulejos art nouveau e possuem pias e mesas de mármore de Carrara. O processo de recuperação inclui limpeza, conserto das rachaduras e até recriação de peças que faltam(Felipe Fittipaldi)
A suntuosidade da construção é visível até mesmo na área de serviço do palácio. A copa e a cozinha são ricamente decoradas com azulejos art nouveau e possuem pias e mesas de mármore de Carrara. O processo de recuperação inclui limpeza, conserto das rachaduras e até recriação de peças que faltam
4/7O Palácio Laranjeiras tem o primeiro elelvador da América Latina. A cabine tem decoração clássica com as iniciais de Eduardo Guinle e detalhes de bronze(Felipe Fittipaldi)
O Palácio Laranjeiras tem o primeiro elelvador da América Latina. A cabine tem decoração clássica com as iniciais de Eduardo Guinle e detalhes de bronze
5/7O projeto de restauro procurou soluções como a substituição de parte das esquadrias, que originalmente eram de madeira, por peças de alumínio. Com mesmos formato e cor, elas são mais leves e duráveis(Felipe Fittipaldi)
O projeto de restauro procurou soluções como a substituição de parte das esquadrias, que originalmente eram de madeira, por peças de alumínio. Com mesmos formato e cor, elas são mais leves e duráveis
6/7No processo nada se perde. Fragmentos dos azulejos quebrados são retirados da parede, catalogados e usados como base para peças novas. Tudo é feito de forma que seja possível identificar que aquela peça foi refeita(Felipe Fittipaldi)
No processo nada se perde. Fragmentos dos azulejos quebrados são retirados da parede, catalogados e usados como base para peças novas. Tudo é feito de forma que seja possível identificar que aquela peça foi refeita
7/7Um dos símbolos da opulência é o banheiro do térreo. As peças foram entalhadas em mármore de Carrara, inclusive a pia, a banheira e o vaso. O local recebeu instalação hidráulica especial, para que a pressão da água não cause danos(Felipe Fittipaldi)
Um dos símbolos da opulência é o banheiro do térreo. As peças foram entalhadas em mármore de Carrara, inclusive a pia, a banheira e o vaso. O local recebeu instalação hidráulica especial, para que a pressão da água não cause danos
Ao todo serão aplicados no trabalho 39 milhões de reais, provenientes de treze empresas por meio de programas federais e estaduais de incentivo à cultura. Com 85% das obras concluídas, o objetivo é entregar o palácio pronto para a Olimpíada do Rio. A ideia é que o governador Luiz Fernando Pezão use suas faustosas instalações para receber chefes de Estado que virão assistir aos Jogos. Em meio à crise financeira que o estado atravessa, a primeira-dama Maria Lúcia Jardim se incumbiu pessoalmente da tarefa de arrecadar os recursos que faltam para encerrar os trabalhos. Desde janeiro, já levantou aproximadamente 17 milhões de reais, e agora faltam 2,8 milhões para fechar a conta. “Não estamos preocupados em nos mudar para lá. O objetivo é devolver o palácio aos fluminenses, para que possam conhecer aquelas instalações”, diz Maria Lúcia.
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Ao longo dos últimos 100 anos, a suntuosa construção projetada pelos arquitetos Joseph Gire e Armando da Silva Telles, originalmente chamada de Palácio Guinle, passou por três reformas. A mais abrangente foi em 1979, durante o governo de Antônio de Pádua Chagas Freitas (1914-1991). As obras atuais são acompanhadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e compreendem o reparo de itens históricos, como o piso de mosaicos de mármore, e um amplo trabalho de modernização, que inclui a substituição das redes elétrica e hidráulica. Um dos melhoramentos é a instalação de um sistema de ar condicionado em todas as dependências, com 32 máquinas. Outra novidade é o elevador panorâmico do belvedere, a torre que adorna a fachada. O equipamento vai contrastar com o elevador original da casa, o primeiro da América Latina. “Chegamos a pensar em oferecer o casarão a alguma missão diplomática durante a Olimpíada. O dinheiro ajudaria a ampliar os recursos para a obra, mas ainda não tivemos interessados”, explica Leonardo Espíndola, secretário da Casa Civil.
Uma restauração tão minuciosa condiz com a importância do palácio. Depois da morte de Eduardo Guinle, a propriedade foi vendida ao governo federal, em 1947. Transformou-se então em local para recepções oferecidas a visitantes ilustres. Passaram por ali os presidentes americanos Harry Truman e George Bush (pai), Fidel Castro, o papa João Paulo II e músicos como Louis Armstrong e Nat King Cole. Lá também moraram alguns presidentes brasileiros, entre eles Juscelino Kubitschek. A temporada dos governadores começou com a fusão dos estados do Rio e da Guanabara, em 1974, e seis deles moraram no palácio — Leonel Brizola, Marcello Alencar, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão são as exceções. Uma vez pronto, o imóvel será aberto a visitação. Com isso, os cariocas poderão conhecer essa relíquia dos tempos em que o Rio sonhava ser Paris.
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