O Sambódromo sempre foi um espaço para a apoteose da cultura afro-brasileira. Mas em 2022 as temáticas negras prometem marcar os desfiles das escolas de samba. Não por acaso, seis das 12 agremiações do Grupo Especial e nove das 15 da Série Ouro, o antigo grupo de acesso, têm enredos que abordam a questão racial e exaltam traços da cultura africana. O desfile acontece um mês antes o assassinato do americano George Floyd, por asfixia, completar dois anos – o tempo em que a avenida esteve fechada por causa da pandemia. O crime gerou revolta social e uma onda de protestos antirracistas e contra a violência policial em todo o mundo. Neste momento de respiro, é preciso fazer a importância do tema circular.
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A Mocidade independente de Padre Miguel, por exemplo aposta em Oxóssi como figura central do desfile. Já a Grande Rio vai de Exu, com histórias e manifestações culturais ligadas à entidade das religiões afro, e a Portela abordará a simbologia dos baobás, árvores gigantescas originárias da África. Com Empretecer o Pensamento É Ouvir a Voz da Beija-Flor, a agremiação de Nilópolis investe na contribuição intelectual negra para a construção de um Brasil mais democrático. E a Paraíso do Tuiuti, chamada de Quilombo do Samba, promete conectar grandes personagens pretos, como o Pantera Negra e Nelson Mandela, com orixás para uma bela homenagem capitaneada pelo carnavalesco Paulo Barros.
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No Salgueiro, que em sua história já desfilou 18 enredos pretos, o enredo deste ano é “Resistência”, cujo símbolo é um punho cerrado. A vermelho e branco terá em suas fileiras 170 ativistas, artistas e intelectuais negros, da professora Helena Theodoro, que concebeu o enredo, a Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades.
Em entrevista ao jornal O Globo, Nei Lopes – cantor, compositor, escritor, advogado e estudioso das culturas africanas – considerou este o carnaval da negritude: “Já houve anos de temáticas únicas, como no quarto centenário do Rio de Janeiro, em que foi uma obrigação do regulamento. Hoje, não! A questão negra está na pauta mundial, principalmente, após o caso Floyd. O Brasil não poderia ficar fora disso, principalmente num momento em que os conteúdos africanos e de cultura brasileira de modo geral estão sendo relegados e colocados na contramão das atividades governamentais”.
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Floyd, por sinal, será lembrado na Passarela do Samba. Na Beija-Flor, encenações lembrarão seu assassinato e os protestos americanos. Já no Salgueiro, a questão racista será evidenciada de outras formas: um carro alegórico terá a representação de um terreiro de candomblé vandalizado e outro trará um obelisco com a palavra racismo que será derrubado na Avenida, em alusão a monumentos postos abaixo em manifestações mundo afora contra escravocratas.