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Pão de Açúcar-Morro da Urca a 100km/h e em 50s: tirolesa agita turismo

Em obras, equipamento mira no próspero mercado do turismo de aventura e desperta a fúria de ambientalistas e moradores da Urca

Por Marcela Capobianco
20 abr 2023, 19h00
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  • A visão é de tirar o fôlego: a 396 metros de altura, mar e montanha em sintonia fina. Do lado esquerdo, o Oceano Atlântico, com a Praia de Copacabana e seu labirinto de prédios, e as águas calmas da Praia Vermelha lambendo o Morro da Urca. À direita, a “boca banguela” da Baía de Guanabara, como definiu o antropólogo francês Claude Lévi-Stra­uss (1908-2009) em Tristes Trópicos, sorri adornada por barcos ali ancorados. E, acima, os morros do Cantagalo e Dois Irmãos aparecem timidamente, abençoados pelo Corcovado. Esse cenário, em breve, poderá ser admirado a 100 quilômetros por hora, durante cinquenta segundos, num passeio de tirolesa entre o Pão de Açúcar e o Morro da Urca. A novidade, que já mexe com o coração dos aventureiros, está prevista para o segundo semestre. “Em 1912, quando o teleférico começou a operar, o Brasil entrou para a rota do turismo internacional. Tenho certeza de que a atração vai colocar o Rio em outro patamar, chamando visitantes em busca de adrenalina”, pontua Sandro Fernandes, CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar. O investimento no projeto chegou à casa dos 50 milhões de reais. “Poderíamos ter gasto a metade, mas a excelência é o pilar deste projeto”, completa.

    O CEO Sandro Fernandes: novos visitantes na mira
    O CEO Sandro Fernandes: novos visitantes na mira (./Divulgação)

    Por se tratar de um monumento tombado, o processo de licenciamento da obra durou dois anos. A autorização ambiental e urbanística foi concedida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio (SMDEIS) após análises do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Mesmo assim, a atração radical vem enfrentando a fúria de ambientalistas, escaladores e moradores da Urca. Um abaixo-assi­nado on-line lançado em fevereiro acumula quase 15 000 assinaturas. Já o movimento Pão de Açúcar sem Tirolesa, que se organiza pelas redes sociais, reuniu cerca de 300 pessoas para um abraço simbólico ao ponto turístico no fim de março. As principais críticas do grupo são calcadas na descaracterização do patrimônio mundial, reconhecido pela Unesco em 2012, além do possível aumento do fluxo de veículos no bairro e a perturbação do sossego. “O real intuito de uma unidade de conservação é a contemplação. Ninguém desce por uma tirolesa sem gritar. É como se instalassem uma nova estátua ao lado do Cristo Redentor”, brada a psicanalista Gricel Hor-Meyll, uma das lideranças do Pão de Açúcar sem Tirolesa.

    Ambientalistas e moradores protestam: contra a descaracterização do patrimônio
    Ambientalistas e moradores protestam: contra a descaracterização do patrimônio (Movimento tirolesa sem pão de açúcar/Divulgação)
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    Em março, o trabalho de perfuração das rochas foi interrompido após a Secretaria Municipal de Ambiente e Clima (SMAC) pedir um parecer técnico para a Geo-Rio. O órgão não encontrou possíveis riscos na vistoria e uma nova licença foi emitida. A obra, então, foi retomada na primeira semana de abril. Em meio a essa mobilização, o projeto de uma extensa reforma da área construída nos cumes do Pão de Açúcar e do Morro da Urca, ainda sob análise do Iphan, chamou a atenção do deputado estadual Carlos Minc (PSB), que tratou de protocolar um projeto de lei na Câmara dos Deputados que congela o volume de estruturas de concreto no local, impedindo também a remoção da vegetação nativa. “A tirolesa é só uma isca para um plano selvagem de crescimento. O turista não quer saber de loja quando se tem uma paisagem dessas”, argumenta o parlamentar. A empresa alega que o fluxo de visitantes não vai aumentar consideravelmente, posto que antes de deslizar pela tirolesa será necessário pegar o bondinho até o Pão de Açúcar. A capacidade máxima de transporte das cabines, de 65 pessoas por viagem, não será alterada. Para abafar berros, o capacete dos corajosos terá, acoplado, um escudo facial de acrílico.

    Rochas perfuradas: o trabalho foi interrompido e liberado após nova vistoria da Geo-Rio
    Rochas perfuradas: o trabalho foi interrompido e liberado após nova vistoria da Geo-Rio (Movimento tirolesa sem pão de açúcar/Divulgação)

    A aposta dos administradores é no promissor mercado do turismo de aventura e do ecoturismo, que, segundo projeção da consultoria Grand View Research, vai movimentar 1 trilhão de dólares no mundo até 2030. Uma pesquisa da Adventure Travel Trade Association (Atta) mostra que o Brasil é o sexto destino mais procurado por turistas em busca de adrenalina. De acordo com o Ministério do Turismo, quase 20% dos estrangeiros que visitaram o Brasil em 2019 estavam interessados em destinos ligados à natureza e aos passeios radicais.

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    “O projeto é sustentável, acessível e conta com um robusto sistema de segurança. Acredito que a tirolesa vai despertar o interesse de muita gente e incentivar mais projetos radicais. Paisagem é que não falta nesta cidade”, opina Fabio Nascimento, presidente da Associação Carioca de Turismo de Aventura (ACTA). O preço do ingresso ainda está sendo definido, mas já se sabe que as descidas serão previamente agendadas. “Hoje, grande parte das visitas que recebemos acontece no pôr do sol. Nossa expectativa é de que a tirolesa vai ajudar a pulverizar o público no Pão de Açúcar por todos os horários”, diz Sandro Fernandes. Que venha o frio na barriga.

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