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O charme radical de Madureira

Parque inaugurado no bairro torna-se o paraíso dos skatistas e atrai para a região frequentadores de diversos pontos da cidade

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 14h15 - Publicado em 19 dez 2012, 17h07
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 (Redação Veja rio/)
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De todos os bairros do subúrbio do Rio, Madureira sobressai pela personalidade ímpar. Em temas que são muito caros aos cariocas, como o futebol e o Carnaval, a região possui excepcional tradição. É a casa da Portela, do Império Serrano e do Madureira Esporte Clube, antigo fornecedor de talentos para os gramados brasileiros. Pois esse território simpático e cheio de histórias passou a ganhar novos frequentadores, vindos de pontos distantes da cidade, seduzidos por uma série de atrações existentes por lá. Uma das mais recentes é o Parque de Madureira. Inaugurado em julho, ele se espraia por um terreno de 100?000 metros quadrados ao longo da via férrea, equipado com uma pista de skate que é a segunda maior do país. Mesmo nos dias de calor abrasivo, tem ficado abarrotado, e não só por moradores das redondezas. Moradora da Avenida Vieira Souto, em Ipanema, a socialite Patrícia Valansi foi pela primeira vez até lá em setembro, para assistir a um show de Preta Gil. Depois de conhecer a pista, com suas rampas, bowls e corrimão para manobras, resolveu levar o filho para se divertir no fim de semana seguinte. Desde então, não tem mais sossego. Todo sábado ouve os pedidos de Francisco, 8 anos, para voltar ao lugar. “O parque é superorganizado e bem cuidado, com uma área verde enorme”, conta ela, que percorre 30 quilômetros de sua residência até o local. Nessas andanças, aproveitou para conhecer o Mercadão de Madureira, o coração comercial do bairro, e virou freguesa também. “É incrível, indico para todo mundo.”

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Gradativamente, a região reforça sua vocação para o entretenimento e o comércio popular. No sábado passado (8), foi aberto um teatro de arena no mesmo parque. A atração da estreia foi uma récita de Fernanda Montenegro, uma das personalidades nascidas no bairro. Um mês antes tinha sido a vez de Paulinho da Viola atrair uma multidão em show comemorativo de seus 70 anos. Na plateia estava a publicitária Luana Vergara, moradora de Laranjeiras que começava a explorar o terreno. “Descobri um lugar legal, que eu não fazia a menor ideia de como era”, diz ela. O mesmo sambista portelense também arrastou milhares de foliões pelas ruas de Madureira no desfile do bloco Timoneiros da Viola, que marcou presença pela primeira vez no Carnaval passado. Numa outra vertente musical, o baile de charme realizado sob o Viaduto Negrão de Lima ganhou público cosmopolita e foi parar na trama de Avenida Brasil.

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Originalmente uma área rural que fazia parte do que era conhecido como o Sertão de Inhaúma, a região de Madureira foi loteada no início do século XX para dar moradia aos desabrigados das demolições do Centro, que passava por uma ampla reforma promovida pelo prefeito Pereira Passos. Na época, a falta de teatros, cinemas, clubes e cabarés na vizinhança levou os moradores recém-chegados a se reunir nos botecos e terreiros de umbanda. Esses encontros acabaram por germinar uma das primeiras escolas de samba da cidade, a Vai como Pode, que logo seria rebatizada de Portela e se tornaria um chamariz para aquela direção. “A cidade inteira quis conhecer essa novidade”, conta o historiador Luiz Antonio Simas, que lançou recentemente um livro sobre a azul e branco, cuja quadra foi toda reformada.

A revitalização de um tecido urbano em tese se dá de duas maneiras. Uma delas pode ser chamada de regeneração espontânea, que é quando a própria população intervém para revigorar um trecho da metrópole. Foi o que aconteceu no Soho nova-iorquino. Degradada até os anos 90, a região estancou sua decadência ao ser descoberta pela turma das artes, que começou a alugar seus galpões e transformá-los em lofts. Hoje, é um dos lugares mais procurados de Manhattan. Na Lapa, o processo foi parecido, com a providencial participação dos novos comerciantes, que abriram bares e casas de shows que deram um sopro ao núcleo boêmio do Rio. Outra forma de recuperação passa pela intervenção do poder público, como é o caso do Parque de Madureira. Ele nasce com o intuito de desanuviar um pouco o bairro, que tem 98% de seus quase 4 milhões de metros quadrados cobertos pelo concreto de avenidas e edifícios. Ao custo de 67 milhões de reais e dotado de um sistema de reaproveitamento de água da chuva e de economia de energia, além de praça de alimentação, academia para a terceira idade, um pequeno jardim botânico e quadras esportivas, o projeto vai servir de modelo para outras empreitadas da prefeitura. “Vim para conhecer a pista de skate, mas deixei anoitecer e acabei emendando no ensaio da Portela”, diz o engenheiro Victor Schaub, morador da Barra. Madureira, como se vê, é uma festa.

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