Continua após publicidade

Palco de histórias

Três montagens celebram os sessenta anos do Tablado, escola que revelou alguns dos maiores atores nacionais

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h30 - Publicado em 13 jun 2012, 20h16
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Uma garota que faz uma estranha amizade, um filhote de pato discriminado e uma jovem cozinheira invejada pela vizinhança são os anfitriões da festa de aniversário do Tablado. Referência entre os centros de formação de profissionais de artes cênicas no Rio, o teatro-escola fundado por Maria Clara Machado (1921-2001) completou sessenta anos em outubro. Em uma celebração tardia ? mas bem-vinda ?, o tradicional espaço no Jardim Botânico recebe, a partir do dia 30, um dos maiores clássicos da autora e diretora, A Menina e o Vento. O espetáculo se junta a duas montagens de Maria Clara atualmente em cartaz: O Patinho Feio, baseada no conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, no Teatro Miguel Falabella, e Maroquinhas Fru-Fru, no Teatro dos Quatro. Trata-se, portanto, de uma ótima oportunidade para que a criançada se familiarize com a obra de uma autora fundamental da nossa dramaturgia infantil. Seu trabalho atravessa gerações sempre com o mesmo encantamento. “Ela tem um estilo carregado de poesia e metáforas, que são elementos atemporais”, analisa Karen Acioly, autora e diretora de peças voltadas para crianças.

    teatro-02.jpg
    teatro-02.jpg ()

    Definitivamente, o Tablado excede em diversos aspectos uma companhia convencional. Mais que uma escola, tornou-se uma seita com fanáticos seguidores. Seus ex-alunos ganharam até uma denominação: são os tabladianos. É difícil pinçar uma novela ou montagem que não tenha no elenco alguém com passagem pela casa. Em Avenida Brasil, por exemplo, Adriana Esteves, Murilo Benício, Marcello Novaes, Isis Valverde, Bianca Comparato e Heloísa Périssé são oriundos de lá. A eles se somam artistas do calibre de Cláudia Abreu, Miguel Falabella, Drica Moraes, Andrea Beltrão, Malu Mader e Wolf Maya, para ficar numa lista bem acanhada. A comemoração de agora leva aos palcos ex-alunos, que dão vida a personagens delineados por Maria Clara. Em A Menina e o Vento, oito dos doze atores se enquadram nesse perfil, além da diretora Cacá Mourthé, sobrinha da fundadora e administradora do Tablado. Apenas duas das treze pessoas que atuam em Maroquinhas Fru-Fru não frequentaram as aulas no Jardim Botânico. “Maria Clara era muito amável, mas sabia cobrar disciplina. Quem se atrasasse três vezes era expulso”, lembra José Lavigne, diretor de TV que está à frente da montagem em cartaz no Shopping da Gávea.

    Fundado por um grupo de dezesseis pessoas na casa do pai de Maria Clara, o escritor Aníbal Machado, o Tablado começou como uma companhia amadora. Até hoje se mantém assim. Por determinação do estatuto, não se paga cachê a atores ou diretores em espetáculos montados no palco doméstico. Essa rigorosa doutrina, inclusive, provocou uma dissidência na turma. Em 1958, alguns dos integrantes abandonaram o barco para fundar as próprias trupes, entre eles Cláudio Correa e Castro (1928-2005) e Rubem Correa (1931-1996). Depois do racha, o viés infantil ganhou força na obra de Maria Clara e passou a ditar o repertório da companhia, que enfileirou uma série de atrações elogiadas. O primeiro curso promovido pela casa só seria realizado em meados da década de 60, a pedido de amigas da fundadora, que queriam matricular ali seus filhos. Desde então, o Tablado se transformou numa prestigiada escola de formação de profissionais de artes cênicas, sejam artistas, iluminadores, diretores, sejam cenógrafos. A arrecadação das aulas é o forte das receitas do grupo, que há mais de 55 anos possui sua sede no Jardim Botânico. É lá que fica o teatro com 147 lugares e são ministradas as lições aos 600 alunos matriculados no momento.

    Continua após a publicidade

    [—FI—]

    Aliar a paixão típica dos amadores a um trabalho de alta qualidade que só profissionais tarimbados conseguem desenvolver é um dos trunfos da companhia. Maria Clara, por sinal, sempre teve a preocupação de se cercar de nomes destacados em seus mutirões cênicos. A artista plástica Anna Letycia concebeu cenários e figurinos de várias de suas peças, e Carlos Lyra assina a trilha sonora da primeira montagem de Maroquinhas Fru-Fru, exibida em 1961. Ao formar essa cooperativa de talentos, ela alçou o gênero infantil a outro patamar. “Os teatros apresentavam qualquer porcaria para as crianças. Indiretamente, ela forçou os demais a elevar seus padrões”, afirma a crítica Bárbara Heliodora, que teve uma breve passagem como atriz da companhia nos anos 50. Mas não há dúvida: os textos de Maria Clara são a base de todo o arrebatamento. Eles mostram quão cruel é o mundo lá fora, mas sempre com singeleza. E final feliz.

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 35,60/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.