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O embaixador carioca

Líder do grupo Black Eyed Peas, o rapper americano Will.i.am é apaixonado por nossa música e estilo de vida. Agora, prepara-se para emplacar projetos sociais em favelas

Por Letícia Pimenta
Atualizado em 5 jun 2017, 14h17 - Publicado em 21 nov 2012, 13h38
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  • Quando desembarcam por aqui para fazer shows, artistas estrangeiros costumam seguir um roteiro básico. Hospedam-se em hotéis cinco-estrelas, jantam em churrascarias e visitam favelas. No palco, após elogiarem as belezas locais, as mulheres e a alegria dos cariocas, garantem que voltarão em breve. Depois que o Rio entrou na rota dos principais astros do pop, essa promessa tem sido cumprida à risca por vários deles. Madonna, Bono, Mick Jagger e outros nomes da música internacional já estiveram mais de uma vez em solo carioca e em todas elas se esbaldaram a valer. Mas poucos chegam a estreitar os laços com a cidade como o rapper americano Will.i.am, líder do grupo Black Eyed Peas, tem feito nos últimos anos. Desde 2005, quando da primeira apresentação da banda no Rio, o músico, produtor, DJ e empresário vem ao Brasil ao menos três vezes por ano a trabalho ou de férias. Em 2011, deu voz, na versão em inglês, ao pássaro Pedro, amigo da ararinha Blu no filme Rio, de Carlos Saldanha. Paralelamente, lançou o single Great Times, canção pop-chiclete em homenagem ao Brasil. Toda essa paixão levou-o a comprar uma mansão no bairro da Joatinga, que será reformada para abrigar um estúdio de gravação. “O Rio é o retrato desse bom momento do Brasil, do crescimento econômico, da combinação perfeita entre cidade e natureza. Quero me aposentar aqui”, afirma o rapper, que abrirá os próximos shows de Madonna no Parque dos Atletas, bem como os de São Paulo e Porto Alegre.

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    Tamanho entusiasmo e envolvimento transformaram o cantor em uma espécie de embaixador informal do Rio. Quando está lá fora, Will não se cansa de falar bem do estilo de vida descontraído, da música brasileira e das belezas naturais. Assim que desembarca no Galeão, encarna o americano camarada e gente boa, quase um carioca, não fosse sua inabilidade com o português, situação que ele tenta remendar com um portunhol meio torto. O vínculo que Will tem com o país é tão grande que o astro acabou contratado pela marca de cerveja americana Budweiser para a ser o garoto-propaganda local de sua nova campanha, que celebra a boa fase do país e entra no ar em dezembro. Foi nessa condição que ele esteve na semana passada nas favelas do Vidigal e Parada de Lucas, onde gravou um comercial que o retrata já velhinho, sob pesada maquiagem preparada pela mesma equipe do filme O Senhor dos Anéis e com roupas futuristas. “Normalmente eu não faço propaganda, mas a campanha me deu a oportunidade de conhecer de perto essas áreas e de alguma forma contribuir para que as condições de vida melhorem por aqui”, diz ele. Pelo acordo com a AmBev, a empresa se compromete a apoiar projetos sociais de Will.i.am voltados para jovens carentes, com ênfase na formação de técnicos para o mercado de entretenimento, a ser implantados a partir do ano que vem. “O entusiasmo dele com o Brasil casou perfeitamente com a nossa mensagem: a celebração desse bom momento, das mudanças que virão com a Copa e a Olimpíada”, explica Pedro Earp, diretor de marketing das marcas premium da companhia.

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    De turista-celebridade a proprietário de uma residência na capital, Will.i.am se habituou a transitar por diferentes cenários cariocas com a mesma desenvoltura, seja nos camarotes da Sapucaí, seja em bailes funk em favelas. Ele recorda que foi no Morro da Mangueira, em 2007, nos tempos pré-UPPs, que teve uma das experiências mais marcantes de sua vida. O presidente da escola de samba verde e rosa, Ivo Meirelles, convidou Will e seu entourage para uma edição do baile das sextas-feiras. Apavorada com a possibilidade de encrencas com traficantes, a turma que o acompanhava resistiu quanto pôde ao programa, mas o rapper estava decidido. “Relaxem, esta é a minha cidade. Vocês estarão seguros comigo”, disse ele, confiante como o mais gaiato dos nativos. Ao chegar à favela, deu de cara com crianças a serviço do tráfico passeando armadas com fuzis sem ser incomodadas. Ficou em pânico. Para ele, cenas assim existiam apenas na ficção. O cantor só relaxou quando percebeu um certo clima família no ambiente, com mães e filhos dançando funk despreocupadamente. “A felicidade deles me impressionou. Nos Estados Unidos, os moradores dos guetos são raivosos. Há um clima de tensão constante”, compara. Em outra ocasião e num ambiente bastante diverso, Will.i.am teve mais um momento inesquecível. Convidado para bancar o DJ em um camarote de uma cervejaria em 2010, ele tocava um set de ritmos eletrônicos e músicas de Jorge Ben Jor quando avistou o próprio cantor na pista de dança. Ben Jor subiu ao palco e cantou a clássica Taj Mahal, deixando o rapper extasiado. “Ele era para mim um daqueles ídolos que a gente admira a distância. Custei a acreditar que tínhamos ficado amigos”, lembra.

    Nascido William James Adams Jr., o músico de 37 anos, filho de mãe solteira e com cinco irmãos, cresceu em um violento bairro de imigrantes mexicanos em Los Angeles vendo seus amigos envolver-se com o crime e as drogas. Graças ao pulso firme da mãe, que desde cedo incentivou sua carreira musical, ele permaneceu longe desse ambiente violento. Na adolescência, criou com um amigo de escola o grupo de break Tribal Nation. Em meados dos anos 90, os dois fundariam o Black Eyed Peas, que, sob o comando do rapper e com a estupenda figura da cantora Fergie como abre-alas, se tornaria um fenômeno do pop e dos negócios. A fortuna de Will.i.am é estimada em 80 milhões de dólares ? parte dela amealhada com o trabalho de consultor criativo de empresas como Intel, Coca-Cola e até a Nasa. Produtor talentoso, já trabalhou com artistas de todos os estilos, de Celine Dion a Macy Gray, passando por U2 e pelo bossa-novista Sergio Mendes, com quem gravou dois discos, Timeless (2006) e Encanto (2008). A parceria lhe rendeu amizade com outros astros da MPB, entre eles Carlinhos Brown, Seu Jorge e Liminha, cujo estúdio no Jardim Botânico se tornou o quartel-general de Will no Rio. “Ele é um gênio hiperativo. Chega a virar noites trabalhando. Da última vez, apareceu aqui com o laptop e um travesseiro”, conta Liminha, produtor de nomes consagrados como Titãs e Gilberto Gil.

    Admirada e divulgada no mundo inteiro, a música brasileira foi determinante no interesse de Will.i.am pelo país. Ele descobriu Gilberto Gil, Jorge Ben Jor e Milton Nascimento comprando discos antigos de vinil numa loja em Los Angeles. Seu primeiro choque veio quando ele viu a clássica capa do disco Clube da Esquina (1971), de Milton Nascimento e Lô Borges. A imagem mostra dois meninos, um negro e um branco, sentados lado a lado, e o remeteu de cara à condição de sua família, a única formada por negros a morar em um bairro onde residiam apenas imigrantes mexicanos. “Eu me reconheci imediatamente naquela foto. Ali pensei: ?Eu preciso conhecer esse país??”, recorda. Até durante seu trabalho como cabo eleitoral de Barack Obama, com quem colaborou nas duas campanhas, o rapper deu um jeito de incluir o Brasil, ainda que de brincadeira. Durante uma conversa com um amigo, dizia que, caso Obama fosse reeleito neste ano, seu pedido ao presidente americano seria apenas um: arrumar um cargo de diplomata por aqui.

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