Não tem tempo para baixar músicas? Não sabe fazer o download? Quer conhecer novos sons? Para essas e outras necessidades, chegou o seu personal ipodder. Não se trata de uma invenção mirabolante das Organizações Tabajara, mas de um serviço oferecido por DJs como o carioca Dodô Azevedo. Ele se diz o criador do termo cunhado para designar o profissional que recheia iPods (ou qualquer outro tocador de mp3) conforme o gosto musical do freguês. Dodô também é autor do livro DJ Pessoal – Uma Áudio Ajuda (Editora Rocco), uma espécie de manual do personal ipodder com sugestões de músicas essenciais para se ouvir em 65 situações diferentes. Há playlists para lavar louça, namorar, malhar, curar a TPM, para o nascimento de um filho, para ouvir quando estiver gripado, na fila do banco, no trânsito, para quando levar um fora e até mesmo, sabe-se lá, em caso de abdução por alienígenas.
Em 2005, Dodô começou a rechear os aparelhos dos amigos, que avisaram a outros amigos, e assim começaram a surgir os primeiros pedidos. “As pessoas gostavam do que eu tocava nas festas e vinham me pedir as músicas”, lembra. “Hoje, meu trabalho como personal ipodder é criar uma trilha sonora para a vida das pessoas”, explica o DJ, que já recheou iPods de famosos como o técnico de vôlei Bernardinho e sua esposa Fernanda Venturini, a jornalista Ana Paula Araújo e a apresentadora Astrid Fontenelle. O trabalho não é tão simples assim: começa com uma entrevista e tem até diagnóstico musical. Durante a conversa, Dodô descobre os gostos musicais e hábitos do cliente. “Vejo se ele corre, malha, se tem casa na serra, se faz churrasco, se é solteiro, se é casado, se tem filho e precisa de música para acalmar o bebê – a polca polonesa, aliás, é excelente para isso”, conta Dodô.
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Ao fim da análise, o personal dá uma espécie de diagnóstico, indicando quanto tempo de música é recomendado caso a caso. “Se a pessoa costuma viajar uma vez por semana para Petrópolis, já temos aí umas duas horas de música. Também calculo quanto tempo os filhos demoram a dormir, por exemplo”, explica Dodô. As canções para cada situação do dia a dia são, então, separadas em listas facilmente encontradas no tocador.
O personal iPodder, que já recebeu pedidos insólitos como montar uma playlist para sessão de sexo sadomasoquista, costuma atender até três clientes por mês. Ele coloca entre 3000 e 4000 músicas no tocador e demora até um mês para devolvê-lo recheado ao dono. A mordomia custa caro. O DJ cobra 20% em cima do valor de cada música, além do que ele gasta para baixá-las na Apple Store (as canções saem a 0,99 centavos cada). Ou seja, o serviço acaba custando entre 3000 e 5000 reais, duas ou três vezes mais do que um iPod Classic, o mais caro da linha. “O legal do iPod com a assinatura de um DJ é que ele fica personalizado”, defende Dodô. E o serviço ainda vem com garantia: ele procura o cliente algumas vezes para saber se a seleção agradou e se alterações serão necessárias na lista.
Fábio Maia, publicitário e DJ há 22 anos, também se arrisca como personal ippoder quando pinta a oportunidade. “Quem me procura tem bom gosto musical, mas falta paciência para correr atrás das referências. As pessoas não querem ter o trabalho de pesquisar”, conta Maia. No início do ano passado, ele atendeu um pedido curioso: formandos da PUC-Rio sem verba para contratar um DJ pediram para o profissional rechear o iPod que seria tocado na formatura. “A presença do DJ custa mais caro, porque ele trabalha sentindo o clima da festa. O personal ipodder está mais para um consultor”, compara Fabio, que cobra em média 200 reais por 100 músicas. Já a estreante Liliane Prohmann, jornalista e DJ que começou a oferecer o serviço em março do ano passado, cobra por giga – 2 GB de música saem por 80 reais, e 4 GB por 150.
Restaurantes e hotéis também procuram o serviço para armazenar até 30 dias de som ambiente. O economista e DJ Joca Vidal é o responsável da empresa de comunicação Binômio por criar a identidade musical de marcas. Entre as casas que já atendeu destacam-se o restaurante Antiquarius, a sorveteria Sorvete Brasil e a rede Koni Store. A música, afinal, é uma forma de a marca se comunicar com o público. “É o que chamamos de music branding. Faço a trilha de acordo com o que o cliente pede, seguindo as particularidades do público deles. Alguns pedem músicas instrumentais, outros querem apenas MPB. Mas tem também os que me dão total liberdade para montar a playlist”, conta Joca, à frente das carrapetas desde 2002. O pacote de músicas garante trilha sonora mensal durante um semestre. O mais barato custa 50 reais e o mais caro pode chegar a 140 reais por mês.
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Dodô Azevedo também já criou trilhas para estabelecimentos e conta que uma das experiências foi inusitada. Ele foi o responsável pela sonorização do Brasília Palace Hotel, desde áreas como piscina, academia, hall e elevador até o restaurante do local, o Oscar Jazz & Cucina. “O dono do restaurante me explicou que eu deveria oferecer um bom estoque de músicas românticas, porque nos fins de semana os políticos de Brasília costumam levar suas amantes para jantar”, ri Dodô. Ele caprichou na playlist, que ganhou o toque ácido de músicas como Respect, de Aretha Franklin, e Amado Amante, do rei Roberto Carlos.
E você, gostaria de ter seu próprio personal ippoder?