Pesquisa: 63% das abordagens policiais no Rio têm como alvo pessoas negras
Um quinto (17%) delas já foi parada mais de 10 vezes; estudo do CESeC lembra que 48% da população da cidade é negra
Enquanto 48% da população da cidade do Rio de Janeiro é negra, o percentual de pessoas negras abordadas pela polícia na cidade chega a 63%. Um quinto (17%) dessas pessoas já foi parada mais de 10 vezes. Em todas as modalidades de abordagem, sem exceção, os negros são mais parados do que os brancos. É o que revela a pesquisa “Elemento Suspeito, o racismo está no centro da atividade policial e do sistema de justiça criminal”, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), divulgada nesta terça (15). O estudo também mostra que a violência da polícia nessas abordagens aumentou nas últimas duas décadas.
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O levantamento detalha o universo das abordagens policiais no Rio, além de experiências dos cidadãos com a polícia. Também traz uma avaliação da população sobre os agentes de segurança. A primeira parte da pesquisa, quantitativa, foi feita a partir de um rastreamento com 3.500 pessoas em pontos de fluxo na cidade. No total, foram realizadas 739 entrevistas em maio do ano passado, detalhadas pelo Instituto Datafolha.
Negros são 68% dos abordados andando a pé na rua ou na praia, 74% em vans ou Kombis, 72% nos carros de aplicativos, 71% no transporte público, 68% andando de moto e 67% em um evento ou festa. Entre os participantes da pesquisa, 50% sofreu revista física. Desses, 84% eram homens, 69% eram negros e 70% eram moradores de favelas e bairros de periferia. Em contraponto, somente 10% dos brancos que ganham mais de 10 salários mínimos são revistados. As mulheres (16%) são menos abordadas do que os homens (84%) e menos revistadas quando são abordadas.
Policiais militares que participaram do grupo focal da parte qualitativa da pesquisa afirmam que o “elemento suspeito” seria o indivíduo com “bigodinho fininho e loirinho, cabelo com pintinha amarelinha, blusa do Flamengo, boné…”. A descrição bate com a estética dos jovens das favelas e periferias cariocas.
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Ao G1, a Polícia Militar informou que suas ações são baseadas em protocolos rígidos e que a maioria dos policiais militares vêm das classes de base da sociedade, incluindo as comunidades carentes, o que os torna parte do contexto estrutural histórico-social. A PM afirma ainda que foi uma das primeiras instituições públicas do país a ser comandada por um negro e que, atualmente, mais da metade do efetivo de praças e oficiais é formada por pessoas negras.
Confira um resumo da pesquisa:
68% das pessoas abordadas andando a pé e 71% das abordadas no transporte público são negras;
17% das pessoas abordadas já foi parada mais de 10 vezes;
79% dos que tiveram sua casa revistada pela polícia eram negros;
74% dos que tiveram um parente ou amigo morto pela polícia são pessoas negras;
PM tem pior desempenho na avaliação entre os entrevistados e recebe nota 5,4;
Só 17% acham que não existe racismo na Polícia Militar.