Exibido na grade de filmes e séries de suspense, fantasia e terror da plataforma Netflix, o documentário americano Em Busca dos Corais tem como tema o fundo do mar. A produção, que estreou no fim do ano passado, retrata o trabalho de uma equipe de cientistas, mergulhadores e fotógrafos no monitoramento das formações de corais nos oceanos. Durante três anos, esses profissionais analisaram o impacto do aumento da temperatura da água do mar, provocado pelo aquecimento global, nessas verdadeiras florestas subaquáticas. A destruição é notada, principalmente, pela mudança das cores desses organismos, que estão sofrendo um processo chamado pelos especialistas de branqueamento. “Quando os corais passam por algum stress, ocorre a expulsão das algas microscópicas que vivem ali integradas”, explica o biólogo Gustavo Duarte, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Conselho de Pesquisas do AquaRio. “Só que essas algas são justamente a principal fonte de alimento dos corais. Sem elas, ficam desnutridos e perdem a cor — ou seja, morrem. Em determinadas regiões estão se formando verdadeiros desertos, só com esqueletos sem vida nenhuma”, alerta.
Comum em todo o planeta, o problema pode ser percebido por quem mergulha na Oceania, nas Bahamas ou na Baía de Ilha Grande, em Angra dos Reis. Para fazer frente à devastação, um grupo de pesquisadores do qual Duarte faz parte tem utilizado as instalações do AquaRio para desenvolver um método de recuperação e proteção desses ecossistemas, que, embora ocupem menos de 2% da área total dos mares, abrigam 27% de todas as espécies de peixe que conhecemos. A técnica consiste em recolher, na superfície dos recifes, bactérias capazes de proteger os corais contra intempéries externas, como o aumento da temperatura da água. Esses microrganismos são reproduzidos em laboratório e utilizados na fabricação de um coquetel probiótico, posteriormente aplicado nas áreas afetadas. Testado em uma colônia de corais coletada no litoral da Bahia e disposta em um tanque aquecido no AquaRio, o procedimento revelou que, após a aplicação do “remédio”, o processo de branqueamento cessou e, gradativamente, as cores ressurgiram. “O método também já mostrou eficácia em caso de poluição com óleo”, relata o biólogo. “Agora precisamos mostrar ao resto do mundo que dá certo”, diz, entusiasmado.
Para cada espécie de coral, porém, existe uma receita específica. “A ideia é criar um banco de dados para a consulta de cientistas de diversos países, que avaliarão qual aplicar em cada caso”, explica a bióloga Raquel Peixoto, líder do projeto e responsável pela apresentação da iniciativa no European Coral Reef Symposium, na Universidade de Oxford, na Inglaterra, no mês passado. A convite da Universidade da Califórnia, a pesquisadora e professora da UFRJ está há seis meses nos Estados Unidos e lidera um grupo formado por profissionais de seis países que planejam implementar a solução em diferentes ecossistemas. Um deles é a Grande Barreira de Corais, na Austrália, que, de tão extensa, pode ser vista do espaço. Com 2 000 quilômetros de comprimento, o local teve 30% da área devastada em decorrência do aumento da temperatura da água marinha, o que pôs em risco outras espécies. É o caso do peixinho tang azul, famoso graças à carismática Dory, personagem da animação Procurando Nemo. Como se vê no filme, ele se alimenta de seres presos na superfície dos corais e desaparece à medida que seu habitat diminui.