A mudança aconteceu no apagar das luzes de 2015, mas seus alegados resultados positivos foram comemorados na semana que passou. “Bastou ele sair e começou a entrar dinheiro”, afirmou Luiz Fernando Pezão ao jornal O Globo, em matéria publicada no último dia 3. O governador do Estado do Rio de Janeiro comemorava a retirada, da parede de seu gabinete, de Alegoria da Morte de Estácio de Sá, quadro pintado por Antônio Parreiras (1860-1937). A trama se adensa: durante uma visita, o cantor e compositor Jorge Ben Jor bateu o olho na tela de 1,60 por 2,10 metros, deu três pancadas na moldura e decretou: “Está muito carregado, tira”. Com o cofre estadual vazio, enrolado em um rosário de problemas que vão de salários do funcionalismo atrasados à saúde em estado de emergência, passando por economias no cardápio da merenda escolar, o chefe do Executivo decidiu enfrentar a situação livrando-se da obra de arte com supostas propriedades agourentas. Encomenda de Serzedelo Corrêa, então prefeito da capital federal, a pintura de 1911 ainda se encontra no Palácio Guanabara (mais especificamente no Salão Nobre). No entanto, só o fato de estar longe da vista de nosso supersticioso governante já teria permitido o surgimento de boas-novas, como a liberação de 1,2 bilhão de reais para cobrir despesas. Registro da morte do fundador do Rio, ferido na histórica batalha de Uruçumirim, a obra deve ser enviada para Niterói até o meio do ano — vai abrilhantar a coleção do Museu Antônio Parreiras, hoje em reforma. Mais longe ainda, quem sabe, a “relíquia macabra” pode provocar verdadeira reviravolta nas finanças do estado. Caso a deportação de Alegoria da Morte de Estácio de Sánão seja suficiente, talvez valha a pena convocar Ben Jor mais uma vez para ver se os alquimistas já estão chegando.
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