Philippe Nothomb nasceu na Bélgica, mas é um cidadão do mundo. Já viveu em diversos países, nos quais exerceu profissões variadas. Radicado no Rio há seis anos, ele se diverte com programas típicos dos moradores daqui — entre seus favoritos estão passear no Aterro do Flamengo, voar de parapente e subir a Pedra Bonita. Sua relação com a cidade, entretanto, foi além do desfrute das belezas que ela oferece. Desde 2014, Nothomb, hoje com 54 anos, desenvolve uma ação social para levar noções de direitos humanos a crianças de escolas públicas do Rio, sobretudo as localizadas em áreas de risco, como as favelas da Maré e do Jacarezinho. A ideia de realizar uma iniciativa desse tipo surgiu quando ele morava em Portugal e teve contato com o trabalho de Françoise Schein. Conhecida como “a artista dos direitos humanos”, a belga cria murais de azulejos inspirados na Declaração Universal de 1789. Eles ficam instalados em estações de metrô de grandes metrópoles, como Paris, Berlim, Lisboa, Rio e São Paulo.
“Nossa proposta é ouvir as crianças e fazer com que elas pensem nos próprios direitos”
Por aqui, o Caminho dos Direitos Humanos, como a ação foi batizada, leva essas obras a escolas — já foram sete até hoje. A própria Françoise acompanha da França, onde mora, o resultado do projeto, que mescla arte e conscientização. Nothomb procura as instituições de ensino e, em cada uma delas, desenvolve um programa em parceria com diretores e professores, que começam a introduzir o tema das garantias do homem durante as aulas das várias disciplinas. Depois, em quatro encontros, as crianças passam a conhecer mais profundamente o conteúdo da Declaração Universal. Com essas noções em mente, os estudantes são desafiados a fazer desenhos que representem o que eles entendem por direitos humanos e, a seguir, as pinturas feitas viram lindos azulejos, que tomam a fachada das escolas em um grande mural. “Os alunos transmitem ali muito de sua realidade, e é impressionante o que um desenho pode revelar”, diz o belga. A inauguração da obra sempre é acompanhada de festa, para que os jovens percebam quão importante foi o trabalho que desenvolveram. Nothomb se emociona com o resultado alcançado por aqui. “As crianças normalmente não têm nenhuma familiaridade com o assunto e ficam muito atentas para entender o que são esses direitos que elas têm. Nós ouvimos as suas experiências e as fazemos pensar, para que depois elas possam propagar isso na comunidade.”