Durante as partidas da Copa das Confederações, no ano que vem, e da Copa do Mundo, em 2014, um grupo de profissionais dedicará toda a sua atenção não ao que acontece dentro do gramado, mas sim ao que se passa fora dele. É uma espécie de tropa de elite da bola formada por membros da Polícia Civil, da Polícia Militar e das Forças Armadas. Encarregados de zelar pela segurança dos jogadores, das autoridades e da multidão acomodada nas arquibancadas, eles acabam de entrar na reta final da preparação necessária para os eventos da Fifa e, principalmente, para a Olimpíada de 2016. É um programa puxado, iniciado em 2011, e do qual já participaram 450 homens. O treinamento conta com aulas teóricas, exercícios práticos e simulações de situações críticas, conduzidos com a cooperação de organizações de inteligência, como as americanas CIA e FBI, e especialistas internacionais em segurança, a exemplo do comandante-geral da agência de fronteiras nos Jogos de Londres, Tony Smith. “É como se fosse uma corrida contra o tempo, pois temos de aprender coisas que nunca vimos na academia de polícia”, diz Juliana Barroso, subsecretária da área de educação, prevenção e valorização profissional da Secretaria Estadual de Segurança do Rio.
Por mais que conheçam as vielas, os becos e os esconderijos de criminosos nas favelas da cidade, os agentes da lei de fato não são preparados para lidar com ataques de grande escala. Só agora estão aprendendo a identificar e combater perigosas armas químicas, como o gás sarin, que quase vinte anos atrás provocou a morte de doze pessoas e deixou 5?000 feridos em um atentado no metrô de Tóquio. O mesmo acontece com explosivos de última geração desenvolvidos pelos membros da facção islâmica Al-Qaeda e com os expedientes usados por grupos terroristas para infiltrar suas bombas em locais de grande movimento. Casos como os ataques no metrô de Londres, em 2005, e a ofensiva que quase matou o ex-ministro do Interior da Colômbia Fernando Lodono, em Bogotá, em maio deste ano, são reconstituídos nos mínimos detalhes. “Não dá para imaginar que vivemos em um lugar onde não existe terrorismo e que, portanto, estamos livres dessas ameaças. Com o país e a própria cidade cada vez mais em evidência no cenário internacional, esse é um risco potencial”, afirma o major Marcelo Corbage, chefe de operações de comando e controle do Bope, que no mês passado esteve na Academia da Polícia Federal em Brasília e participou, durante duas semanas, de um dos cursos ministrados por oficiais americanos.
Garantir a segurança de multidões é um dos maiores desafios para forças policiais de todo o mundo, a ponto de ter se transformado em um campo de estudos específico no currículo das academias de polícia internacionais. É o que os técnicos no assunto chamam de crowd management, algo como monitoramento de grandes aglomerações. Durante a Copa de 2006, a Alemanha se baseou nesse conceito para neutralizar as ações dos ferozes hooligans, que provocam tumultos e pancadarias nos jogos. Tal experiência agora é compartilhada com os agentes brasileiros. Há dois meses esteve no Rio o diretor de operações na área esportiva da polícia alemã, Ingo Rautenberg. “Foram identificados os indivíduos que poderiam oferecer risco e sua entrada nas competições foi proibida. Esse tipo de ação preventiva é crucial”, destaca o delegado federal Valdinho Caetano, secretário extraordinário de Segurança para grandes eventos. Em fevereiro do próximo ano, uma equipe de agentes planeja embarcar com destino a Nova Orleans, nos Estados Unidos, para ver de perto a megaoperação policial armada para o último jogo da liga de futebol americano, o Super Bowl, que reuniu quase 200?000 torcedores na final da edição passada.
Compartilhamento de experiências e treinamento teórico são fundamentais no processo de preparação das forças de segurança. No entanto, há um terceiro elemento decisivo: as equipes precisam estar familiarizadas com as instalações que serão utilizadas, sejam elas estádios e arenas esportivas ou terminais de transporte. Com a conclusão das primeiras obras, as aulas práticas começarão a sair do pátio dos quartéis para ser realizadas em pontos estratégicos e por onde o público circulará. Há previsão de simulações de ataques e incidentes como incêndios tanto nas recém-inauguradas estações do BRT como dentro do Maracanã, mesmo entre andaimes e tratores. Elas se repetirão no Engenhão, nas barcas e no metrô. Além de proteger milhares de turistas, atletas e espectadores, o processo de qualificação dos policiais se transformará em um grande legado para fazer do Rio uma cidade mais segura.