Maior consumidor de açaí do país (só perde para o Pará, onde o fruto faz parte da cultura gastronômica e é consumido diariamente pela maioria da população), o Rio já começa a sentir os efeitos da baixa produtividade dos açaizeiros daquele estado. De alguns meses para cá, o valor cobrado pela matéria-prima chegou a quase dobrar, e as casas de suco da cidade já reajustaram suas tabelas em até 15%.
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A baixa oferta, claro, ajuda a explicar o aumento do preço. “O valor pago aos produtores já começa a ser repassado para o consumidor final”, diz André de Melo Modenesi, professor do Instituto de Economia da UFRJ. Dois motivos explicam a alta no valor cobrado pelas cooperativas paraenses e pelos ribeirinhos, que abastecem 90% do mercado de açaí do país. Mesmo no auge da safra, que vai de agosto a novembro, as condições climáticas (choveu pouco em junho e julho, e o açaizeiro precisa de água para dar bons frutos) podem ter influenciado na baixa produtividade. Mas não só.
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Segundo o geógrafo João Hermeto, da ASA (Ação Sustentável da Amazônia), 98% da produção do açaí é nativa. Mas com o boom no consumo do fruto, de alguns anos para cá, ribeirinhos passaram a plantar em larga escala, optando pela monocultura. “Sem diversidade, a floresta perde a sua produtividade. Essa homogeneização na produção colapsou o sistema e afetou bruscamente a oferta”, diz. “Árvores que davam 30 cachos de açaí agora dão cinco. Fora que os cachos estão menores”, afirma Hermeto, dono de duas lojas de suco no Rio e fornecedor de sete toneladas de açaí por mês para restaurantes e redes de supermercados da cidade, como o Zona Sul.
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Bony Monteiro, dono da Bony Açaí, processador e distribuidor de açaí no Pará, diz ter sentido “de forma bastante pesada” essa nova realidade: a lata de 14 quilos que ele comprava por R$ 17 em agosto, agora já passa de R$ 50. Ele já repassou aos distribuidores do Rio (a Ceasa, inclusive) parte do aumento cobrado pelos pequenos agricultores com quem negocia pessoalmente, em Belém, e nas cercanias da Ilha de Marajó. Bony despacha para o estado três carretas de 30 mil kg por semana e, há três meses, cobrava R$ 180 mil por cada uma. “Agora vendo por R$ 300 mil, não tive outra saída”.
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Modenesi, professor da UFRJ, considera que, como é acirrada a concorrência na ponta da cadeia (as casas de suco), a tendência é que os empresários façam um esforço para não repassar totalmente essa alta dos custos. Fazer o açaí render mais deve ser uma das opções – em bom português: é bem provável que o suco ou a tigela de açaí passe a vir mais aguado, com o fruto mais diluído. Já o preço, o céu é o limite: ele deve chegar ao seu auge durante o verão.
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