Pela primeira vez em cinco anos, o Rio de Janeiro ultrapassou 60% de autorizações de integrantes diretos de famílias na doação de órgãos de pacientes com morte encefálica. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, nos três primeiros meses do ano o percentual atingiu 64,5%, o mais alto patamar desde a criação do Programa Estadual de Transplantes (PET), em 2010.
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O secretário Felipe Peixoto disse que o aumento é consequência da conscientização da população. Para incentivar as doações, a secretaria lançou, em abril, a campanha “Doe+Vida“, que esclarece sobre a importância de discutir a doação de órgãos. Com ela, foi criado também o site doemaisvida.com.br, para os interessados poderem se declarar doadores, fazer o cadastro e imprimir o cartão virtual Doe+Vida.
De acordo com o coordenador do PET, Rodrigo Sarlo, outro fator importante para a elevação das autorizações é a estrutura do sistema de doação de órgãos e transplantes no estado. É preciso, segundo ele, ter uma estrutura com profissionais treinados e habilitados a trabalhar em todas as etapas do processo.
Entre os motivos mais comuns para que a doação de órgãos não seja autorizada, está a falta de consenso entre os parentes. Muitas vezes, disse Sarlo, eles não sabem da vontade do paciente. Além disso, indica a falta de compreensão de que a morte encefálica é um diagnóstico irreversível. O coordenador lembrou que conforme a legislação brasileira, somente pessoas diretas das famílias podem permitir a doação de órgãos de pacientes com morte encefálica.
Qualquer cidadão que deseja declarar a vontade de ser doador se inscreve no site, a informação vai para o banco de dados e o sistema pode avisar à família, lembrando que o que vale é a autorização da família, independentemente de qualquer coisa.
A advogada Valéria de Albuquerque e Silva perdeu o filho João, de 16 anos, em janeiro deste ano, por causa de um aneurisma. Ela contou à Agência Brasil, que sempre falava com o jovem, que era doadora, e quando morresse gostaria que os órgãos fossem para quem estivesse precisando. Valéria disse que jamais pensou que o filho morresse antes dela, e mesmo sendo sempre a favor de doações, no momento em que estava muito abalada com a perda do filho acabou esquecendo de autorizar a doação.
“Na hora, se não tivesse uma pessoa a me lembrar eu teria esquecido, porque é um desespero tão grande que a gente sai do ar, mas, felizmente, o médico me alertou e imediatamente eu e meu marido aceitamos. Não teria nem porque não doar, se existe a possibilidade”, revelou, defendendo que as pessoas sempre façam a divulgação da vontade de doar órgãos.
Em cinco anos, o PET beneficiou mais de 5 mil pessoas que foram salvas com transplantes. Nesse período, o Rio saiu das últimas colocações para ficar em segundo no ranking nacional de doações. Desde o início de 2015, segundo Sarlo, foram 148 doações. Com apenas seis meses, o número supera o total registrado em todoo ano de 2010, quando ocorreram 80. A expectativa é bater novo recorde no fim deste ano, com 300 doações. “A gente já tem um ritmo maior do que no ano passado e, com certeza, o aumento no número de autorização das famílias foi um dos fatores determinantes”, disse.
A lista de espera por um transplante tem 2 mil pessoas, atualmente, no estado do Rio de Janeiro.