Espanhol radicado no Brasil, Francisco Serrador Carbonell (1872-1941) foi um empreendedor de notável trajetória. Deu duro como vendedor ambulante antes de prosperar (e muito) no ramo das diversões. No Rio, seu desejo de instalar no Centro uma Broadway carioca levou à criação de um complexo de cineteatros na região que, não por acaso, é hoje conhecida como Cinelândia. Remanescente daqueles dias de glória, o Odeon, inaugurado em 1926, recebe parte da programação do Festival do Rio, em cartaz até domingo (15). Na 19ª edição, a mostra aposta em outras frentes, além da projeção de 250 títulos de sessenta países. Perto do antigo cinema, realidade virtual e música também estão na agenda, no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Teatro Riachuelo e no Teatro Rival. Reunidos no circuito do evento, os quatro vizinhos, a minutos de caminhada um do outro, prometem, ao menos por alguns dias, devolver à Cinelândia o status de point ostentado até meados do século passado.
As atrações previstas são exclusivas, a começar pelos filmes no Odeon. Preservada por iniciativas que espicharam seu nome, a sala imponente, com belo lustre e 550 poltronas, chama-se oficialmente Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro — Cine Odeon Net Claro. Ali serão exibidas produções aguardadas, como o brasileiro Gabriel e a Montanha (quarta, dia 11, às 19 horas) e Em Pedaços (quarta, dia 11, às 21h50), drama alemão que rendeu a Diane Kruger o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes 2017. Do outro lado da Avenida Rio Branco, o Centro Cultural Justiça Federal recebe a Mostra VR, de realidade virtual. De graça, de quinta (12) a domingo (15), dois programas serão apresentados continuamente das 14h30 às 19 horas, em dez equipamentos. O primeiro, de vinte minutos, traz a ficção futurista francesa Altération. O programa 2, com 38 minutos, contempla quatro títulos de curta duração, entre eles Sergeant James, também francês, sobre um menino que desconfia de algo estranho embaixo da sua cama, e o documentário da rede Al Jazeera I Am Rohingya, cobertura da vida em um campo de refugiados de Bangladesh. Apenas no sábado (14), também das 14h30 às 19 horas, engordam essa lista rodadas do game The Last Squad, no qual os participantes defendem a Terra de uma invasão alienígena.
“Nosso evento aponta para o futuro. O público tornou-se variado, e buscamos sintonia com diferentes gostos”, diz Ilda Santiago, diretora do Festival do Rio. Dentro dessa proposta, o agito na Cinelândia inclui diversão para plateias musicais diversas. Em parceria com a gravadora Biscoito Fino, shows vão tomar conta do Teatro Rival BR nas noites de terça (10) a quinta (12). Na abertura, Fabiana Cozza passeia pela obra do cubano Bola de Nieve, a quem dedicou seu último disco, antes de Alcione entrar em cena com uma antologia de boleros, em apresentação de voz e violão. O segundo dia reserva standards nacionais e estrangeiros na voz de Leila Maria, além de um tributo a Milton Nascimento a cargo de Zélia Duncan e do violoncelista Jaques Morelenbaum. O encerramento reúne, entre outros, Silvia Machete, com canja de Eduardo Dussek. Há mais. Perto dali, na quinta (12), às 18 horas, a Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a regência de Felipe Prazeres, vai passear por trilhas sonoras de Tim Burton, o diretor de filmes como A Noiva Cadáver, Os Fantasmas Se Divertem e Edward Mãos de Tesoura. A propósito: o animado concerto acontecerá no Teatro Riachuelo, a nova encarnação do tradicional Cine Palácio, uma das salas do império de Francisco Serrador. O velho empresário aprovaria.