O pequeno Nicollas Rodrigues da Conceição, de 10 anos, embaixador do Experimente Cultura desde o ano passado, simboliza as janelas abertas há quatro anos por incursões gratuitas – digitais e presenciais – de alunas e alunos da rede pública a instituições culturais da capital fluminense. O êxito do programa agora tem impulsionado os planos de expandí-lo para outras cidades.
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Em meio aos colegas da Escola Municipal Canadá, no Estácio, Nicollas destacou-se pelo entusiasmo com as visitas virtuais a museus do Rio e do mundo. O estudante representa milhares de crianças e jovens que realizam o sonho de conhecer espaços histórico-culturais. O interesse crescente pelos encontros com a cultura rendeu-lhe um passe que garante gratuidade nos museus conveniados durante um ano.
Vinculado à Prefeitura e à Secretaria Municipal de Cultura, o Experimente Cultura nasceu em 2019 sob o desafio de melhorar o acesso de crianças e jovens das redes públicas de ensino a centros culturais e museus. À entrada e ao transporte gratuitos, somam-se atividades lúdicas que incrementam a ambientação a cada visita.
As atividades sobreviveram à pandemia e o projeto hoje acumula 25 000 participantes, de 442 escolas públicas. Embora esteja centrado em crianças e adolescentes, o programa contempla também pessoas com deficiência e idosos em vulnerabilidade socioeconômica. A maioria deles é atendida por meio de parcerias com projetos sociais.
A curadora e idealizadora da iniciativa, Renata Prado Kaiuka, enfatiza o princípio comunitário e pedagógico das visitas. Planejadas conjuntamente por educadores e representantes das instituições culturais, as saídas alinham-se a propostas desenvolvidas por professoras e professores nas salas de aula. O aprendizado extrapola a fronteira dos museus:
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“As crianças conhecem, durante o trajeto, pontos importantes no bairro da escola e nas imediações do museu visitado. São pontos histórico-culturais do Rio. O educador faz a mediação desde o momento em que a gente pega as crianças na escola e começa a conversar com elas sobre o que vamos viver naquele dia. As crianças chegam aos museus já instruídas, com uma introdução sobre exposição que vão visitar”, explica Renata. Ela completa:
“Para o educador, é mais fácil trabalhar assim. Na volta, a gente faz uma atividade de encerramento e uma roda de conversa para trocarmos o que eles observaram no passeio, como se sentiram nos museus”.
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Restritas à experiência remota na pandemia, as visitas retomaram a opção presencial. Mas a adaptação ao ensino on-line e o aprendizado extraído das limitações impostas pela crise sanitária desdobram-se no uso avançado das telas e da realidade virtual para expandir o acesso à arte e à cultura. Um legado que, projeta Renata, alimenta a perspectiva de replicar o Experimente Cultura em outros municípios.
No Rio, os alunos podem conhecer instituições como o Museu Histórico Nacional, o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu de Arte Moderna (MAM), o Museu do Amanhã, o Museu da Vida e o Jardim Botânico. Já as visitas virtuais incluem o Louvre, em Paris; o Museu Benfica, em Lisboa; o Metropolitan Museum of Art (MET), o Guggenheim, o Albany Institute of History & Art e até o Bronx Zoo, em Nova York; o Getty Museum, em Los Angeles; o Smithsonian Air & Space, em Washington; o Pacific Museum of Earth, em Vancouver, no Canadá, e o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), na Argentina.
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A curadora ressalta a importância do sentimento de “pertencimento aos ambientes culturais” e do “pensamento crítico de ocupação” aguçados pelas experimentações culturais presenciais ou remotas. As vivências, observa Renata, contagiam também os familiares, colegas, vizinhos: uma cadeia motivacional para que cada vez mais cariocas visitem esses espaços.
Para a historiadora Eloá Figueiredo dos Santos, coordenadora e educadora da Escola Municipal Emílio Carlos, em Guadalupe, os museus e aparelhos culturais movem reflexões que relacionam o passado histórico e o futuro:
“A partir do momento que um indivíduo entra em contato com um aparelho cultural, acaba estimulando a ideia de pertencimento. A valorização só ocorre quando a pessoa se sente participante daquele espaço ou patrimônio. A gente entende que o patrimônio cultural é um bem coletivo, algo público, que nos pertence”.
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Nicollas diz que os museus lhe trazem inspiração e o estimulam a mergulhar fundo na ciência e nos estudos:
“Arte e cultura me encantam, assim como as histórias que a gente tem para contar ao nos conectarmos com o universo cultural. Isso nos ajuda querer sempre aprender mais”, anima-se o garoto, que sonha em ser cientista.
*Luísa Giraldo, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.