Na garupa do mototáxi, a subida pelas curvas da Rua São Carlos, a artéria principal da favela de mesmo nome, leva até o mirante. O carona ouve a música que vem de dentro das casas, pode pedir informações aos moradores e até conferir um prato feito, o popular PF, de boa fama na vizinhança. Lá no alto, terminada a viagem, o tour continua por lugares como a Rocinha ou os complexos do Alemão e da Maré. Tudo isso sem sair da frente do computador. O passeio virtual por áreas carentes da cidade, com pitadas de emoção proporcionadas apenas por tecnologia de realidade aumentada, é parte de um projeto maior, coordenado pelo Instituto Cultural do Google e dedicado a esquadrinhar o Rio de Janeiro. Disponível na rede desde sexta-feira, 29 (no link g.co/riodejaneiro), o pacote de novidades inclui exposições on-line abastecidas pelos acervos de centros culturais, a exemplo do Museu de Arte Moderna, do Theatro Municipal e do Instituto Moreira Salles, além da vista panorâmica, em 360º, de marcos da cidade, como o Arpoador e a Pedra da Gávea.
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Lançado em 19 de julho, o Google Arts & Culture é uma plataforma que, como tudo na empresa americana de tecnologia à qual pertence, já nasceu monumental. No site ou no aplicativo, o usuário encontra informações sobre milhares de instituições de setenta países — a lista interminável vai da múmia de um gato no Egito de 2 000 a.C. ao discurso célebre de Martin Luther King, aquele do “Eu tenho um sonho”, proferido em 1963. A caminho de tornar-se a capital mundial do esporte, como cidade-sede dos Jogos de 2016, o Rio de Janeiro ganhou destaque no radar do Google. Câmeras de altíssima definição, concebidas para capturar imagens em 360º, foram utilizadas tanto no passeio pelo Morro de São Carlos quanto, por exemplo, no tour pelo Theatro Municipal, guiado pela primeira-bailarina Ana Botafogo. O usuário tem autonomia: pode estabelecer o próprio roteiro e deter-se em um detalhe qualquer. Os parceiros — o Municipal, o MAM e o Instituto Moreira Salles, além do Santuário Cristo Redentor, do Museu do Amanhã, da Secretaria de Conservação do Rio, do Instituto Elifas Andreato e de Ziraldo, que conduz o visitante por sua obra — se encarregam de alimentar o aplicativo, aberto a novos interessados.
A incursão do bem por favelas cariocas é o toque exclusivo da iniciativa. Batizado de Além do Mapa, o projeto atual dá prosseguimento ao Tá no Mapa, criado em 2014, por meio de uma parceria com a ONG AfroReggae. Nos dois casos, o louvável objetivo é acabar com a mancha cinza, sem informações, que representa áreas carentes na planta da cidade. Desde então, 26 comunidades tiveram ruas batizadas e pontos comerciais incluídos no Google Maps — um trabalho feito por moradores treinados pela empresa, um contingente que hoje chega a 150 agentes munidos de celular com sistema GPS e acesso à internet. “A reação é muito positiva. As pessoas enxergam valor em estar no mapa, escolhem o nome das ruas, e isso aumenta a sensação de pertencimento e a autoestima”, explica Susana Ayara, diretora de marketing do Google Brasil, à frente das duas iniciativas de mapeamento. O Vidigal, a pedido de seus moradores, está na fila desse processo de cidadania digital.
Com a Olimpíada logo ali, o Rio não é o assunto da vez só no Google Arts & Culture, mas a exposição da cidade na plataforma on-line pode colaborar para esclarecer diversas polêmicas suscitadas pelo aumento da curiosidade a respeito da realidade carioca. “Através desse projeto, estamos disponibilizando conhecimento e experiências relacionados a manifestações culturais e sociais de uma cidade a que somente pessoas muito próximas teriam acesso”, afirma Alessandro Germano, diretor de parcerias estratégicas do Google. Um rolé pelo morro, o vertiginoso voo em torno da estátua do Cristo Redentor ou a exploração do patrimônio artístico guardado por aqui, algumas das experiências ao alcance de um clique, podem contribuir para elevar o nível da discussão. Procure saber. ■